sábado, 5 de julho de 2014

SEGUNDA OPORTUNIDADE?



Ontem, ao final da tarde, lá fui – como devia, mas também porque sabia que o queria – à Fnac do Norte Shopping para o lançamento do livro do Lino Fernandes, com apresentação a  cargo do ex-Reitor da Universidade do Porto José Marques dos Santos.

Éramos poucos (?) mas bons e a conversa foi interessante. Retive diretamente do autor algumas notas soltas para devido aprofundamento e reflexão, como o seu diagnóstico de que é necessário repensar as políticas de internacionalização, matéria em que considera que “houve muito sucesso com pequeno impacto sobre a economia nacional” e em que existe hoje “um novo valor do território” a explorar. Ou as suas ideias centrais de que “há uma chance” porque “o país tem horizontes estratégicos com muita importância e pode jogar neles”, de que “o cenário da economia real será essencial para a negociação financeira” e de que “a gente não muda previamente ao crescimento, é no crescimento que a gente muda”.

O Lino tem consciência de que a sua atitude pessoal, muito virada para uma combinação entre o conhecimento meticuloso do real e a orientação para a ação concreta - que ficou bem patente em duas notáveis passagens pela presidência da Agência de Inovação -, é frequentemente desvalorizada ou mal entendida pela maioria dos seus interlocutores, que o consideram “um otimista” ou que a ele reagem com um “não deve ser bem assim”. Mas ele acredita mesmo no que nos vai deixando proposto (“o que fazer do que fizemos” ou “o nosso futuro, nas próximas décadas, será determinado pelas opções que tomarmos agora”), em resultado de um saber que é simultaneamente feito de muita experiência de terreno e de muito estudo e suor – como, por exemplo, que se desenvolveu em Portugal variada inovação de nível mundial que urge fazer chegar ao mercado através de um investimento multinacional cujos agentes decisores estão quase sempre longe de uma perceção mínima das capacidades nacionais em termos de recursos humanos e tecnológicos.

Dito isto, o Lino é também um observador lúcido do que o rodeia: uma elite dirigente cada vez mais voltada para o curto prazo e cada vez mais afastada dos mínimos que lhe deveriam ser exigidos, um país dual cujo “principal problema é interno” e que “não está para aí virado”, a estranha ausência de uma “ideia comum” sobre os pontos fortes que detemos. Daí o sentido da dedicatória que me escreveu e que fala por si: “com esperança de que este livro seja um contributo para evidenciar o potencial do País”. Como também, aliás, os títulos que escolheu: “Portugal 2015” (porque as grandes opções se colocam amanhã), “Uma segunda oportunidade?” (porque “as oportunidades que se abrem têm uma janela temporal limitada para serem aproveitadas e não são reversíveis”) e “Inovação e Desenvolvimento” (porque importa partir do investimento intensivo na formação dos recursos humanos e na modernização das infraestruturas que o País realizou durante três décadas, o “Portugal Inovador”, e transformá-lo em “modelo estruturante e dinamizador do conjunto da economia”, i.e., acelerando a mudança estrutural e lançando um novo modelo de desenvolvimento).

À saída pensava cá com os meus botões que quando conheci o Lino, há trinta e tal anos, ele era parte de um trio (com o Eduardo Ferro Rodrigues e o José Manuel Félix Ribeiro) que parecia indissolúvel. Afinal, seguiram os tão diversos caminhos que se lhes conhecem e reconhecem, embora nunca tenham cedido a neles exprimirem o que de mais forte os unia – a lealdade e a decência, a curiosidade e a honestidade intelectual, a utilização da inteligência sem menosprezo pelo trabalho. Gente cada vez mais rara...

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