O modelo de comentário
de Marcelo Rebelo de Sousa vai-se prestando a uma progressiva banalização, em
busca de mais público e sabe-se lá de uma futura base de apoio a um eventual
regresso à política ativa do professor. Por isso, nas mesmas noites de domingo
podemos ter do comentário imaginativo e pensado à mais pura banalização do
diz-se que não se disse, perante um Júlio Magalhães aparentemente alheado de
tudo e com um rosto de tirem-me daqui e sem querer importunar o génio (que
saudades de Maria Flor Pedroso, pela interação que conseguia e porque o écran tinha
um visual mais atraente).
Assim foi no
passado domingo. Arguto e mortal na apreciação às desventuras palacianas e de
secretaria do PS com Seguro pelos vistos incomodado, vendo-se na necessidade de
emitir um comunicado para contrariar a opinião do Professor. Verdadeiramente “touché”.
Mas em contraponto tivemos o Marcelo, pouco independente e muito alinhado, reverente
e obrigado, no caso já aqui comentado da Brisa, OPA respetiva e opções de crédito
da Caixa Geral de Depósitos ao Grupo Melo no âmbito dessa operação. Aqui o professor
invoca simplesmente a argumentação de uma das partes (fiquei sem perceber se da
CGD ou do próprio Grupo Melo). Recusa a estocada ou a simples alfinetada.
Compreensivo, veicula o argumento de que a operação de crédito da CGD não é
nenhuma benesse e contradição. Pois a queda do valor das ações da Brisa devido à
crise terá criado fortes imparidades no balanço da CGD e isso seria motivo
suficiente para justificar a operação, pois com a mesma a CGD evitaria um
problema maior. Marcelo parece que pensa que somos todos parvos ou totós,
rendidos à sua fluência comunicacional. Imagine-se que a CGD atuasse do mesmo
modo com todos os títulos nos quais perdeu cotação de bolsa. Desataria a realizar
operações de crédito para evitar na fonte essa desvalorização. Dois pesos duas
medidas. Aqui não se ousa sequer meditar um pouco nas razões da indignação. Sabe-se
que a cultura económica de Marcelo deixa a desejar, sempre pela rama. Mas neste
caso trata-se de um comentário de branqueamento mais claro do que qualquer
outro.
O que temos aqui é
o poder de um modelo de afetação de recursos em torno das atividades protegidas
da concorrência internacional que resiste à penalização inevitável e irreversível
que teria de sofrer para arrepiarmos caminho em termos de competitividade
externa. Que um banco público se coloque ao serviço dessa defesa não tem
justificação possível, até porque o seu contributo para o modelo alternativo
(de apoio às atividades não protegidas) pouco se sabe. As amizades e filiações
contam muito, mesmo que o professor goste de se mostrar muito independente.
O problema não escapou e bem ao Negócios: “Marcelo
Rebelo de Sousa concorda assim com a decisão da CGD na Brisa "se for na
estrita e exacta medida da desalavancagem" do banco. Só há aqui um
problema, professor: a CGD não tem uma participação qualificada (igual ou
superior a 2%) na Brisa.
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