domingo, 1 de abril de 2012

A CIRCULATURA DO RETÂNGULO

Como já se tornou habitual, a “Quadratura do Círculo” desta semana correspondeu a mais um excelente momento de reflexão política. Sendo que, não fossem os desencontros de perspetivas em torno do “sinistro Sócrates” (como ironicamente se lhe referiu António Costa), a espessura que define as intervenções de cada um dos três comentadores residentes quase fazia esquecer estarmos em face de três personalidades caracterizadas por significativas diferenças de pontos de vista entre si. Porque, na realidade, perpassou pelo debate uma sensação de ampla convergência, apenas levemente matizada por naturais tónicas de abordagem específicas, no tocante a diversos traços estruturantes da atual situação política nacional.

Sobre o quadro político vigente e a governação em curso, António Costa (AC) sustentou que “nem a maioria nem a oposição conseguem preencher o presente”, reforçando ainda que “é no vazio do discurso sobre o futuro que o presente fica ocupado pelo passado”, enquanto António Lobo Xavier (ALX) sublinhou que “o Governo é sobretudo o Ministro das Finanças” e José Pacheco Pereira (JPP) acrescentou que “Passos Coelho pode falar de desemprego mas não tem empatia pelos desempregados” e que a atual “linguagem política” corresponde a “uma mistura de macroeconomia com profetismo”. Com a agravante de que “a direção do PSD e uma parte importante da elite política que hoje está no poder no PSD vive da imprensa, ou seja, raciocina politicamente em função do impacto das posições da imprensa”.

Quanto ao Congresso do PSD, ALX recordou que “os congressos dos partidos são como as cartas de amor, em geral muito ridículos”, ao passo que AC preferiu acentuar que “a única coisa que fica são os ‘soundbytes’ patéticos de intervenções como as de Luis Filipe Menezes e outros personagens do género”, algo que considerou que seria “um bocado ridículo para um partido de governo, se não fosse gravíssimo”. JPP, por seu lado, optou pela desmontagem da inconsistência evidenciada na paupérrima moção da JSD, a cujo conteúdo aludiu caricaturalmente do seguinte modo: “o mercado laboral está sujeito a uma ditadura, está fechado e, portanto, tem que se lutar contra os direitos adquiridos”, ou seja, “paizinhos, ide para o desemprego que é para nós [os jovens] podermos ter emprego”; não sem deixar ainda claro o seu profundo e justo desprezo pela incultura dos signatários: “claro que não lhes passa pela cabeça que antes dos direitos adquiridos está a liberdade, a democracia, os direitos humanos, a greve, essas coisas todas”.

Em relação ao PS, JPP colocou-se na defesa das posições de que “as propostas que o António José Seguro (AJS) faz não correspondem a nenhum pensamento estruturado” mas apenas à “moda” e de que “o PS neste momento não tem uma direção política sólida, aliás em bom rigor não tem uma direção política”, o que ALX corroborou no essencial negando qualquer
“travessia do deserto” por parte de um AJS que nunca terá deixado de comer a “carne assada” dos encontros de militantes. Ao que AC veio adicionar que o que um partido como o PS “não pode fazer é fingir que o passado não existe” e que “a regra nos partidos políticos tem de ser a disciplina de voto”.

E assim vai o País neste “dia das mentiras” deste tão bissexto ano…

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