Nestas terras
bordejantes do Minho quase a terminar o seu percurso, confluindo com o sapal do
Coura, a sensação de país é diferente. Há uma certa perceção de fim de mundo e
uma crescente identificação com os problemas da vizinha Galiza e por essa via
um largo peso da situação espanhola. Talvez seja pela influência da televisão,
ou talvez fruto da permanente relação transfronteiriça que articula estas
gentes, mas nas esplanadas ou nos cafés é difícil saber se predomina o português,
o galego ou o castelhano. Faltam-me algumas coisas como a grande massa de
livros que está longe, alguns canais do cabo, a ideia de densidade, mas talvez
me habituasse rapidamente a viver aqui, ou seja, mais dias do que aqui habitualmente
passo, com o esventrado monte de Santa Tecla a mirar os meus hábitos.
Por isso, nestes
dias leio mais imprensa espanhola do que portuguesa, Vigo atrai mais do que
Viana apesar de tudo o que Viana tem vindo a desbravar de convivialidade urbana
e o El País quase que substitui o olhar sobre o Público.
O post de hoje
mexe anarquicamente com alguns flashs perdidos na voragem das notícias sobre a
situação espanhola:
- O projeto de “pressupuestos” que Rajoy adiou como estratagema eleitoral para depois das regionais das Astúrias e Andaluzia (sem êxito, não se sabe como penalização dessa manobra ou desgaste precoce) apresenta uma diminuição brutal de investimento nas regiões, com a Catalunha à cabeça (-45% de investimento face a 2011), só com o País Basco e a Galiza a resistirem a essa diminuição (com aumentos, respetivamente, de 9,5% e de 17,4%, no caso da Galiza essencialmente associados à alta velocidade); será curioso verificar até que ponto a posição da Catalunha vai ser matéria de largo debate e de maneira afetará as relações dos nacionalistas com o PP;
- Os programas de I&D experimentarão uma diminuição de 25%;
- O alarido é enorme em torno de um projeto do PP para perdão fiscal aos incumpridores, entre os quais se encontram alguns “trutas” empresariais espanhóis com dívidas ao Estado;
- A febre imobiliária, largamente rebatida, tem em Madrid um último fôlego possível: o PP está isolado no seu apoio de um projeto de um megacasino (ócio, negócios e jogo) no valor estimado de 18 milhões de euros;
- Conde Roa, novo alcalde PP de Santiago de Compostela, numa das mais inesperadas viragens eleitorais das últimas locais, tem à perna o Fisco espanhol, por uma denúncia de não pagamento do IVA num empreendimento de 60 habitações da sua própria promotora imobiliária: uma novidade neste modelo – não se limitam a financiar e a condicionar a governação local, exercem-na;
- Um excelente artigo de Andrés Ortega e Ángel Pascual Ramsay sobre a centrifugação da socialdemocracia na Europa, baseado sobretudo no argumento de ausência de respostas fiáveis para os problemas da crise, da globalização, da integração europeia, da imigração e da precariedade crescente de um eleitorado cada vez mais disperso; citando: “O socialismo espanhol, se quer voltar a ser uma alternativa, tem de demonstrar que tem capacidade para atrair talento às suas equipas, diversidade e coragem para tomar decisões difíceis. Como dissemos, a base eleitoral em que o socialismo tradicionalmente se apoiou – a classe trabalhadora – está em recuo demográfico e ainda que o PSOE tenha sido particularmente bem sucedido em atrair as classes médias, em Espanha a partir dos anos 90 esses apoios foram-se evaporando. Uma maioria progressista exige um discurso que recolha e traduza em propostas políticas operativas as preocupações e os sonhos das classes trabalhadoras mas também das classes médias que minimize a sua incerteza em relação ao futuro e fortaleça os indivíduos”;
- O enorme cartoonista Mingote faleceu aos 93 anos.
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