Um ano passou sobre os factos que conduziram à primeira destas capas do “Público”. Um ano desconcertante, atribulado, triste. A meio do qual, o mesmo jornal mostrava a imagem de um novo chefe de governo anunciando inevitáveis efeitos para os/alguns portugueses em 2012 e 2013 (e, ao que soubemos por estes dias, também em 2014).
No seu “Destaque” de Domingo (1 de Abril), o “Público” dedicou quase seis páginas a “rever a matéria dada”. “O Resgate Um Ano Depois” revelava um trabalho exaustivo da jornalista Cristina Ferreira tanto mais louvável quanto ajuda a ler, com a objetividade possível, as ocorrências verificadas nos momentos mais (i)mediatamente próximos daquela data.
Não pretendo repisar aqui todo o racional associado à ideia que sustento a este respeito e segundo a qual se terão vivido duas fases bem distintas: uma primeira, durante a qual a estratégia de Sócrates de passarmos “por entre as folhas de chá” chegou a parecer/ser possível em face da abertura obtida na Cimeira Europeia de 10 de Março – o que Carlos Costa (BdP), citado naquele texto, objetivamente valida ao referir que “testemunhei que a CE e o BCE não queriam que Portugal fizesse um pedido de assistência financeira, igual ao grego e ao irlandês, e estavam empenhadas na aprovação do PEC IV” – e uma segunda, durante a qual a posição de Sócrates poderá ter ido gradualmente registando um crescente isolamento e culminado na comunicação televisiva para que se terá sentido empurrado e onde reconheceu a “rendição”.
Pelo meio ficaram episódios diversos, entre o rescaldo da reeleição de Cavaco e do seu discurso de posse, as pressões sobre o setor bancário no sentido de uma continuada compra de dívida pública, a má comunicação/ não comunicação das medidas adicionais articuladas com Bruxelas, a “rebelião” no PSD e a ameaça de Marco António Costa (“ou há eleições no país, ou no partido”) e as consequências decorrentes da rejeição do PEC IV na AR (com o voto de toda a oposição), designadamente ao nível da atuação pública e privada dos responsáveis pelos grandes bancos, do governador do Banco de Portugal, do ministro das Finanças, de Passos Coelho e outros dirigentes do PSD e até de Mário Soares.
Mas o que me parece de sublinhar é que aquela tentativa de evitar o resgate, a ter tido êxito – leia-se: a ter sido conseguida a acalmia política interna necessária ao aguentar de um relativamente prolongado impasse à escala europeia na expectativa do reforço previsto para o FEEF em Junho –, nos poderia ter trazido a uma situação que hoje não estaria muito distante da italiana ou da espanhola, países que beneficiam de uma ajuda indireta do BCE e não de uma intervenção externa condicionadora de soberania.
Dias atrás, ainda naquele diário, e a propósito de exemplos de “julgamento” de políticos por opções políticas alegadamente erradas, Teresa de Sousa perguntava: “Quem fez pior aos portugueses? A forma irresponsável como o anterior primeiro-ministro usou o dinheiro público, aumentando o défice e aumentando a dívida para lá do que seria admissível para preservar a estabilidade financeira do país? Ou a decisão do atual primeiro-ministro de chumbar o PEC IV? Quem agiu em total má-fé e em total boa-fé? Quem não envolveu cálculo político imediato na interpretação legítima dos interesses essenciais do país? Quem pode ajuizar isto?”
De um ou outro modo, há uma coisa que é certa: Portugal vive um dos mais “horribilis” períodos da sua longa história…
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