Em complemento ao post anterior, mas mais consentâneo com a linha dominante neste espaço, incluo ainda naquele pacote de leitura ocasional o artigo de Quinta-Feira de Hamish McRae – um dos mais conceituados jornalistas e comentadores financeiros britânicos, editor associado do “The Independent”, premiado pelos “British Press Awards” como “Business and Finance Journalist of the Year 2006” e autor da aclamada obra prospetiva “The World in 2020: Power, Culture and Prosperity” – na coluna “Economic Life” do seu jornal. O título fala por si:
“Why Spain is odds-on for a bailout by the end of the year” – a Espanha na “linha de tiro” (“odds-on”).
Os elementos sublinhados não são novos e integram, juntamente com outros, os motivos pelos quais a Espanha se tem vindo a tornar a grande protagonista dos “media” económicos internacionais ou, como titulava o “Le Monde” do mesmo dia, porquê “l’Espagne devient le grand souci de l’Europe”. Afirma o autor (apelando, designadamente, aos dados acima): “O problema da Espanha não é tanto o nível da dívida pública, em torno de 70% do PIB, mas mais o nível de dívida privada, o nível de desemprego [‘o maior do mundo’, acrescido da ‘catástrofe social’ de um desemprego jovem próximo de 50%] e a solvência dos seus bancos [onde o “El País” estimou (detalhes no quadro acima) que já foram injetados, em quatro anos, 111 mil milhões de euros (81 em avales de Estado e 30 em ajudas públicas) e entidades que ‘foram os maiores utilizadores do esquema especial de empréstimos do BCE’]”.
Neste quadro, em que as previsões crescentemente aprofundam o pessimismo (p.e., a S&P estimava ontem que a Espanha será o único grande país europeu em recessão em 2013) e os sinais emitidos pelos mercados financeiros são também comparativamente demonstrativos (quer em termos do diferencial de rentabilidade das obrigações a 10 anos em relação ao equivalente alemão, que atingiu ontem o máximo anual de 392 pontos básicos e voltou aos níveis de novembro del 2011, quer em termos do largamente pior comportamento do IBEX em relação aos restantes grandes índices bolsistas mundiais em 2012, como é visível na infografia acima publicada em http://www.expansion.com), McRae coloca a evolução previsível dos acontecimentos de forma muito clara e amplamente concordante com o “most likely scenario for Spain” (do “escape” da falência ao “guarda-chuva” do resgate) que Wolfgang Munchau (FT) defendera em “There is no Spanish siesta for the eurozone”:
· “Sob estas circunstâncias [previsões do crescimento económico piores do que as oficiais, -2,7% este ano e -1,2% em 2013], a Espanha será incapaz de cumprir as suas metas orçamentais.
· “É difícil fazer mais do que esboçar o modo como os acontecimentos poderão desenrolar-se nos meses à frente, mas a balança das probabilidades aponta para que [a Espanha] necessitará de ajuda europeia de alguma espécie”.
· “Podem haver alguns meses de folga, mas quando um país entra na trajetória de precisar de um resgate é difícil tirá-lo para fora dela”.
Acabado de completar 100 dias de governação (o que é acima celebrado no “cartoon” de Bernardo Erlich no “El País”), Mariano Rajoy vê assim o seu país num crescente fio da navalha, ademais potencialmente dilacerado por um incremento da tensão social inédito nas últimas décadas. Como dizia o “Wall Street Journal” de anteontem (mais uma coincidência?), “Rajoy tem provavelmente o trabalho menos invejável do mundo” e “irá necessitar de toda a sorte do mundo”…
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