quinta-feira, 5 de abril de 2012

“UM DIA”

Entre a profusão de ditos e reditos produzidos no quadro desse lamentável tema da duração da suspensão dos subsídios de Natal e de férias dos pensionistas e funcionários públicos – que nunca voltarão a ser pagos, digo eu que não sou de intrigas… -, apreciei especialmente dois apontamentos.

Por um lado, alguns passos de Passos em entrevista à Renascença. Da perturbadora sinceridade com que nos vai presenteando ("Nós sabemos que não podemos repor esses subsídios automaticamente no dia seguinte, o que quer dizer que tem de haver um processo que nos vá permitindo ao longo do tempo repor esses subsídios. Qual é o grau de reposição? Quanto tempo vai demorar? Não sabemos. E não sabemos porquê? Porque eu não conheço as condições que vão existir em 2014 ou em 2015.") à pérola suprema de dizer que “o que nos pareceu é que haveria, digamos, reformas a mais que poderiam não ser bem entendidas”!

Por outro lado, foi também cativante assistir à troca de galhardetes inter-primos Louçã, com o mais velho a dar o seu ralhete ao “senhor ministro” mais novo e este, ligeiramente ruborizado, a reafirmar que “a suspensão vigorará até ao final do programa de ajustamento” e que “esta é a posição que o Governo tem e sempre teve”. Apesar do seu reconhecimento de “um lapso” quando disse em entrevista à RTP que a suspensão, terminando com o programa, acabaria em 2013.

Diz o povo que “há males que vêm por bem” e é bem verdade. No caso vertente, reporto-me à oportunidade de daqui enviar uma saudação à excelência da coluna que o Manuel António Pina (acima caricaturado por Fernão Campos em
http://ositiodosdesenhos.blogspot.com), o sabugalense/portuense que foi “Prémio Camões 2011”, assina diariamente na última página do “Jornal de Notícias”. Que hoje reza assim:
“Passos Coelho descobriu em pouco tempo novas maneiras de se explicar e de anunciar ao que vem. Agora está mais maduro e menos peremptório. Já não declara, como há um ano, no Dia das Mentiras de 2011: ‘Ouvi o primeiro-ministro [José Sócrates] dizer, infelizmente, que o PSD quer acabar com o 13.oº mês, mas (...) isso é um disparate, isso é um disparate’. Agora, depois de ter disparatadamente acabado com o 13.oº mês e ainda com o subsídio de Natal, sobre a sua reposição disse à Renascença: ‘Creio que depois de 2014 (...) Portanto, a partir de 2015 haverá reposição desses subsídios’.
Claro que a primeira afirmação contestava José Sócrates e a segunda respondia a Peter Weiss, não o autor do famoso ‘Canto do espantalho lusitano’ mas responsável da Comissão Europeia pelo programa de ‘ajuda’ a Portugal, que disse sobre o fim dos subsídios de férias e Natal: ‘Por agora é por dois anos, por razões constitucionais, temos de ver se se tornará ou não uma medida permanente’. Ora, com a ‘troika’, a coisa justifica mais respeitinho. Embora não menor convicção.
Podem, pois, funcionários públicos e pensionistas ficar sossegados e começar a fazer projectos para 2015. Até porque Passos Coelho é (ou era há um ano) dos que acham que "nós precisamos de valorizar cada vez mais a palavra para que, quando ela é proferida, possamos acreditar nela. Além de que ‘nós não dizemos hoje uma coisa e amanhã outra’. E 2015 é já amanhã.”

No meio de tanta porcaria, um ponto poderia ter algum merecimento se devida e seriamente tratado: o da “possibilidade” que Passos aventa de “um dia” se fazer a redistribuição dos subsídios de férias e de Natal pelas atuais doze mensalidades dos funcionários do setor público e dos pensionistas. Se um dia vier a haver “um dia”…

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