A chamada de capa era sugestiva, especialmente porque o Professor Marcelo parecia ter-se decidido a usar o seu conhecimento, informação e experiência para abordar um assunto estruturante da sociedade e do mundo em que vivemos. Comprei e fui ler. Sobre o tema, e perguntado sobre se os lóbis económicos têm muito poder em Portugal, dizia:
“Ironicamente, muito poder não. Porque, à escala europeia, os grupos económicos portugueses são todos muito fracos. O que se passa é uma coisa antiga, que é uma tradicional ligação entre o poder político e o poder económico e que se acentuou depois da revolução, com as reprivatizações. No fundo, os novos grupos económicos, para já não dizer os antigos, acabam por ter o seu espaço de manobra definido pelo poder político. Como já vinha de trás aquela ideia terrível de passarem as pessoas do poder económico para o poder político. Há muito a ideia na opinião pública de que muitos estão no poder económico para chegarem à política. Pode ser verdade ou não, mas existe a fama. É uma má tradição, que vem do facto de haver muito poder político e pouca sociedade civil. Tudo dependia do poder político. No salazarismo era assim. Havia meia dúzia de grupos económicos e Salazar arbitrava entre eles, arbitrava no plano pessoal, nem sequer no plano institucional. Com as nacionalizações, isso
acentuou-se. Houve mais poder do Estado e menos da sociedade civil. Este lastro, que durou até aos nossos dias, espero que passe no futuro.”
“A montanha pariu um rato”, também aqui. Porque, tal “cowboy que dispara mais rápido do que a própria sombra”, o entrevistado deixa cair vários apontamentos óbvios e manifestações de “inocência” numa resultante desenquadrada e que foge ao essencial, a meu ver um verdadeiro “molho de bróculos”. Então aquela ideia de que, no Portugal de hoje, “muitos estão no poder económico para chegarem à política”!
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