terça-feira, 3 de abril de 2012

MÁRIO SOARES NO PORTO

Caracterizo a minha relação com o Presidente Mário Soares (acima caricaturado por Fernão Campos em http://ositiodosdesenhos.blogspot.com) em três substantivos e três adjetivos: enorme admiração, incondicional aceitação, incomensurável gratidão. Ponto parágrafo!

Faço esta confissão a propósito da iniciativa “À Conversa com Mário Soares: Portugal, a crise e a importância da CPLP” que o Centro Regional do Porto da Universidade Católica, no âmbito do seu MBA Atlântico, realizou hoje e na qual tive a honra de participar, respondendo a amável convite das principais figuras da Católica no Porto (Joaquim Azevedo, Álvaro Nascimento e Alberto Castro).

Ouvir este português único foi, mais uma vez, um momento muito gratificante. Por motivos imensos, que passo a exemplificar:
· Pela graça do modo de estar e de dizer – tal como “há boas e más colheitas de vinho”, nesta fase “estamos rodeados de políticos medíocres”; o salazarismo como inimigo comum aos governantes portugueses e aos representantes dos movimentos independentistas africanos, pois que “estivemos ambos nas mesmas cadeias”; “ele não é muito velho, parece que tem a minha idade” (a propósito do aniversário de Helmut Kohl que se celebra hoje); “alguns políticos são verdadeiramente malandros, mas nem todos”.
· Pela firmeza da análise – a grave crise do capitalismo em que vivemos; a política progressista de Obama; a complexa situação da China, “um cocktail entre duas ideologias terríveis, o comunismo maoista e o capitalismo de casino”; a estranha Merkel do segundo mandato e o seu “vassalo” Sarkozy; o papel nefasto de Blair para a social-democracia europeia; o temor da desintegração europeia; a esperança de mudança associada a François Hollande; a necessidade de mantermos a coesão nacional nesta época de desespero e fome.
· Pela força das convicções – a UE como o projeto político mais extraordinário de todos os tempos; a referenciação das duas famílias políticas (democracia cristã e social-democracia) que o construíram; o pacto fiscal europeu e o questionamento da “montesquiana” separação de poderes que dele decorre; a denúncia do pensamento neoliberal e a centralidade dos valores (das pessoas, da cultura, da ética) relativamente ao dinheiro; a responsabilidade cidadã.
· Pelas lições da experiência – “os que nos atiraram para esta crise são os mesmos que estão a gerir a crise, não há nada de bom a esperar deles”; o afastamento em relação à diferença é a pior atitude; “a subserviência em política é zero, não dá nada”; “não devemos ter medo dos outros”; “é preciso dizer-se o que se pensa”.

A dada altura, o moderador, Professor Francisco Carvalho Guerra, resumiu bem o magnífico espírito dos dois protagonistas da sessão quando declarou que os árabes têm razão: “as estrelas não morreram só porque o céu está enevoado”…

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