terça-feira, 3 de abril de 2012

DA ZONA EURO ENQUANTO CASAMENTO

Já aqui referi que Nouriel Roubini (acima caricaturado por Cummings em http://www.economonitor.com) é um economista americano de origem turca cujas competências académicas/técnicas e de gestão de imagem lhe lograram um eficaz aproveitamento da crise internacional no sentido de se afirmar como um mago da previsão e um homem de negócios (no quadro da consultora a que preside, “Roubini Global Economics Monitor”).

Ao longo destes últimos anos, tem produzido desencontradas argumentações quanto à crise da dívida soberana europeia e, em particular, quanto ao papel e ao lugar das economias periféricas nesse quadro e no contexto das possíveis soluções a encontrar. Com a dominância de posições quase sempre pouco simpáticas e parcialmente inexatas, diga-se, no que respeita ao nosso País.

Pois Roubini voltou ontem à liça no “Financial Times”, assinando um artigo conjunto com o seu “managing director” Arnab Das (“A divorce settlement for the eurozone”) em que sustentam que “nada de fundamental foi resolvido” na Zona Euro – apesar do generalizado alívio decorrente de o BCE ter afastado o desastre – e defendem a prevalência da imaginosa parábola de que “a separação pode ser difícil, mas pode ser melhor do que insistir num mau casamento”.

Vão mesmo ao ponto de referir que, “idealmente, cinco periféricos aflitos – Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha – saíriam, negociando um ‘bridge financing’”. Ostentando ainda o objetivo declarado de aqueles paises assim recorrerem a realinhamentos cambiais como elemento central do necessário ajustamento competitivo que visaria transformá-los na realidade que a modelização macroeconómica designa por “pequenas economias abertas”.

Assaz curiosamente, deixam explícitos três pontos mais: que os países sobrantes na Zona Euro formariam uma “rump eurozone” (uma espécie de picanha no contexto mais vasto do rodízio…); que deveria ser mantida a união aduaneira europeia, “em benefício de todos os Estados membros” (o que quer que tal signifique…); que “os bancos e os mercados financeiros colocam as ameaças imediatas mais graves à estratégia de saída”.

Depois, e prosseguindo numa mescla entre o Direito Civil e a Consultoria Matrimonial, os autores sublinham também que “prestações transitórias ou ajustes de exceção são frequentemente a chave de divórcios amigáveis” ou que “temos leis de divórcio porque o divórcio amigável é melhor para todos os implicados do que sofrer as depressões crónicas que acompanham os maus casamentos”.

No cômputo geral, a recomendação é clara: “a Zona Euro deveria criar, mais cedo que tarde, planos para uma saída ordeira, porque adiar frequentemente torna o rompimento mais custoso”. Os mercados a reaquecerem os motores?

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