segunda-feira, 2 de abril de 2012

TRILEMA, CAMINHO ABERTO E BELÉM

Dois excertos do comentário de ontem de Marcelo Rebelo de Sousa na TVI, a propósito da mudança de Estatutos do PS e do futuro das lideranças nessa área política. O primeiro criticando a iniciativa de António José Seguro (acima caricaturado por Fernão Campos em http://ositiodosdesenhos.blogspot.com): “Um líder forte não precisa da golpaça de fazer revisões de Estatutos, violando os Estatutos. O grande problema é este, é as pessoas perguntarem: se o homem faz isto quando é líder da Oposição, que fará quando for primeiro-ministro? Se para ele os Estatutos valem o que valem como líder da Oposição… Ora ele, em relação ao Sócrates, apresentava como a sua grande vantagem comparativa a transparência. Como quem diz, Sócrates era acusado mais ou menos disto, quer dizer: os fins justificam os meios, uma explicação sempre complicada de regras, de direito e de situações e tal, eu cheguei a chamar a certa altura o chico-espertismo, não é e tal… Bom, mas Seguro era o contrário, Seguro não era nada disto. Então afinal ele não é nada disto e faz uma tropelia aos Estatutos que nem Sócrates conseguiu fazer!”

O segundo explicando o tolhimento a que a iniciativa de Seguro terá reduzido António Costa: “Porque se Seguro for eleito no começo de 2013, não tem que defrontar mais ninguém até às Legislativas, é o candidato a primeiro-ministro. Dir-se-á: e António Costa, porque é que não se atravessa agora? Como, se ele tem no meio as Autárquicas? Imagine-se que ele perde na disputa pela liderança do Partido, vai fragilizado às Autárquicas. Imagine-se que ele ganha, como é que ele acumula as duas coisas, quem é que acredita que ele vai defender Lisboa quando está nitidamente a fazer o percurso para as Legislativas? Já vimos um filme: Jorge Sampaio – ganhou as Autárquicas, perdeu as Legislativas. Portanto António Costa, com este pequeno pormenor, a menos que haja uma revolução que não se vê qual, fica condenado a esperar por 2015, desejando que Seguro perca para apanhar o Partido em pedaços, ou a ser candidato presidencial. Portanto, o ‘timingzinho’, o caminho aberto fechou-se.”

Mas esta é toda uma história cujos fundamentos passados e presentes ainda estão largamente por contar e cujas evoluções futuras ainda vão ter também muito que contar. Para já, sabe-se que – curiosamente ou talvez não – Marcelo e Costa (em foto acima aquando do recente lançamento do livro de António Costa, “Caminho Aberto”) foram considerados em sondagem recente como os dois próximos candidatos presidenciais preferidos dos portugueses à direita e à esquerda (ver síntese publicada em
http://www.jornaldenegocios.pt). E foi público e notório que Seguro viu o seu projeto de mudança estatutária aprovado, embora com significativas cedências de modo a evitar votos contra, no Conselho Nacional de ontem – resta-lhe agora a tarefa mais importante, traduzida na resolução do intrincado trilema que se lhe apresenta pela frente: responder adequadamente a críticas que colhem junto de uma camada
de cidadãos (como são as do tipo que Marcelo hoje protagonizou), evitar fraturas relevantes no PS e fazer uma oposição de projeto e eficaz a um governo que se vai consolidando no poder…

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