(Enric Vives-Rubio, Público)
Com pompa e circunstância e pose de Estado, Passos e
Portas anunciaram a inevitável ida a votos em coligação, prolongando para o ato
eleitoral o cheio de percalços percurso que fizeram desde a sua chegada ao
poder, suportando-se reciprocamente. A escolha do 25 de abril para o fazer não é
inocente e mostra uma maioria na defensiva, pretendendo recuperar o rumo dos
acontecimentos que esta semana o PS inverteu, lançando para a mesa um programa
macroeconómico à luz do qual se pensa que as medidas eleitorais e o programa de
governo proposto pelo PS serão enquadrados. O momento só valeu para verificar
se surgia algo de novo no conjunto de ideias que serão repercutidas até à
exaustão até ao período eleitoral.
Para lá da tentativa de colagem do PS de Costa ao PS que
precipitou o pedido de resgate (que os jovens centristas e ppd’s já crismaram
com a provocação da pergunta “onde é que estavas quando o país foi lançado na
bancarrota?”, foi-se percebendo que emerge a interpelação do povo português
quanto à garantia de estabilidade como uma das principais mensagens a dirigir
ao eleitorado. Trocado por miúdos, agora que estaríamos muito perto de lá
chegar para quê deitar fora tanto sacrifício para chegar onde se chegou
trocando a maioria por quem dá reduzida mostra de o poder fazer em condições de
estabilidade. Pelas palavras de Portas, a maioria apresenta-se misteriosamente
como mais próxima da economia real (terei ouvido bem? Foi de facto isto que foi
dito!), o que sugere que segundo a mesma maioria uma possível governação do PS
estará mais longe dessa mesma economia real. O argumento de estarmos perto de lá
chegar, ao bom porto da sustentabilidade da economia portuguesa, assenta numa
completa falsidade que é necessário desmontar. O que o ajustamento brutal da
economia portuguesa conseguiu foi tão só recuperar condições de financiamento
externo, mas a maioria não consegue mostrar uma só evidência que a economia
portuguesa tenha realizado a transformação estrutural necessária para uma
retoma sustentada. Tal como se verificou em outras economias europeias, a
retoma observada, para além de ser normal num ciclo económico em a que uma
recessão sucede sempre um início de retoma, reflete sobretudo o amortecimento
do choque de consolidação fiscal. Em Portugal, sobretudo por força das
determinações do Tribunal Constitucional que limitou a dose da austeridade,
noutros países porque o corte da despesa pública foi sendo desacelerado e isso
coincidiu com a injeção de liquidez do Banco Central Europeu.
Não há nenhuma evidência de que globalmente a retoma do crescimento
se faça em melhores condições globais de dependência externa, sobretudo porque
sem que o investimento privado retome níveis do passado não podemos antecipar
por parte das empresas a transformação esperada. Tudo se jogará nos primeiros
anos de aplicação dos fundos estruturais dirigidos às empresas e no modo como
os apoios à inovação e à internacionalização alavancarem na economia efeitos de
demonstração extensivos às empresas não apoiadas.
Por isso o argumento de que estamos quase lá e que é
perigoso deitar a perder esse esforço é pura ladainha e cantilena para
adormecer eleitor e desenterrar no eleitorado o medo da mudança, apelando à inércia
e ao comodismo. Porque tenho a intuição de que a maioria embora se sinta presumidamente
próxima da economia real, está longe das pessoas e estará a menosprezar o
sentido de justiça que atravessa a população portuguesa.
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