sexta-feira, 24 de abril de 2015

UMA DÉCADA SÃO DOIS DIAS!



Sabem o que me foi mais chocante de entre o que se foi passando nestes dias subsequentes à apresentação do relatório “Uma década para Portugal” por parte do grupo de economistas convidados pelo PS para a sua elaboração? A meu ver, e em linha com o que tão certeiramente sublinhava Cristina Azevedo na sua coluna do JN, a confirmação da nossa irremediável incapacidade coletiva para qualquer reflexão séria em torno do que queremos/podemos/devemos fazer com “Isto” – simplesmente incorrigíveis!

Ainda António Costa falava a encerrar a dita sessão e já o PSD, pela voz autorizada de um tal Matos Correia (há criadagem que tem cara para tudo!), procurava desqualificar e arrasar o que podia com o pouco que sabia! Depois, foi um corrupio de gentinha de nível equivalente de preparação a competir aos pontos no campeonato da ignorância, da imbecilidade e da desinformação. Pessoalmente, adorei ouvir a intervenção no Parlamento daquele untuoso e afetado deputado que dá pelo nome de Duarte Pacheco (o verdadeiro, aquele que escreveu algumas páginas da nossa história económica, não merecia isto!), só foi pena que lhe tivesse acontecido o azar da chegada ao final do debate dessa autoproclamada luminária sem vergonha que é Paulo Portas. E, não fora o desconto que temos de dar pelo facto de a coisa se ter passado nesta nossa linda terrinha, teria sido pungente depararmo-nos com um vice-primeiro ministro e uma ministra das Finanças a agitar demagogicamente o espantalho da Troika contra aquele relatório durante um tempo parlamentar agendado para que justificassem e defendessem o seu próprio programa de reformas – sentido de quê? No meio de tanta rasteirice, a que também não escaparam os anedóticos e bruxelenses irmãos Dupont e Dupond (leia-se Rangel e Melo), salvou-se a deputada Cecília do CDS que, pelo menos, deixou algumas indicações de que procurara ler (mesmo sem que às vezes compreendesse mas tendo feito o que podia) o documento dos economistas do PS.

O folclore de comentaristas para todos os gostos também andou por aí. Como sempre. Mas, por entre os mais inconscientes – que até metem dó porque não sabem o que dizem – e os mais aventureiros – que se julgam imunes à asneira só porque começam por dizer que não são especialistas do métier – não deixou todavia de sobressair uma boa mão cheia de analistas esforçados, sérios e competentes que assim têm vindo a contribuir para ajudar a colocar nos sítios certos os termos do debate que urge levar a cabo na sociedade portuguesa. Nós por cá, e como o António Figueiredo já começou ontem a fazer, procuraremos ir participando, necessariamente limitados pela óbvia modéstia dos nossos préstimos mas firmes no princípio de que só nos pronunciaremos sobre o que tivermos estudado e estivermos em condições de analisar...

Sem comentários:

Enviar um comentário