Escrevo sob o efeito de um grande choque e comoção para aqui registar mais um desaparecimento nesta terrível Primavera de 2015. Soube há dias que ele estava doente ao dar pela sua falta em trabalhos de preparação programática no quadro do PS e ao ter perguntado por ele a amigo comum, mas não tive então noção da gravidade e da iminência do desenlace. Morreu mais um grande português, um homem que viveu o seu tempo sem hesitações ou calculismos, um engenheiro eletrotécnico (foi colega de Guterres no Técnico e com ele disputou a excelência estudantil a ponto de aquele ex-primeiro ministro um dia ter confessado que, se tivesse de escolher uma personagem que não enjeitaria ter sido, essa seria a da combinação de brilhantismo, conhecimento e capacidade de realização que encontrava em Gago) que se doutorou em Física em Paris, trabalhou em Genebra no CERN (o maior laboratório de física de partículas do mundo), foi professor catedrático do Instituto Superior Técnico, passou pela JNICT e se tornou no político que mais fez pelo avanço e estruturação da Ciência em Portugal nas últimas décadas (sobretudo como ministro da Ciência e Tecnologia dos governos socialistas durante mais de dez anos, entre 1995 e 2002 e entre 2005 e 2011, neste caso também com o Ensino Superior a seu cargo). O seu infatigável, meticuloso e focado trabalho de formiguinha foi essencial a muitíssimos títulos (que o digam, para não ir mais longe, os laboratórios de Estado e os rankings internacionais!) e não exagerarei se afirmar que foram a sua inteligência, a sua visão e a sua intuição política que permitiram que fosse concretizada uma emblemática exceção na pobre política democrática portuguesa: a eficaz continuidade de uma política pública e a visível demonstração dos respetivos resultados. Como é injusto que o Zé Mariano já não vá continuar entre nós!
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