domingo, 5 de abril de 2015

O EXCEDENTE COMERCIAL ALEMÃO




Livre como um passarinho, rigoroso e acutilante como poucos, poderia ser o mote para celebrar o regresso de Ben Bernanke às lides do debate, depois de ser substituído por Janet Yellen à frente do FED – USA.

Pois não há dúvida que, num número reduzido de posts no blogue do Brookings, Bernanke tem marcado o debate, pois não se trata de um economista qualquer. Os seus ESSAYS ON THE GREAT DEPRESSION (Princeton University Press, 2000) continuam a ser uma referência insubstituível para muitos que se aventuram no estudo dos anos 29-30 e do seu significado para a evolução do capitalismo no século XX e prolongamentos atuais. O seu último contributo foca-se no problema europeu e na sua análise da dissonância perigosa que o excedente comercial alemão representa para o equilíbrio da zona euro e, indiretamente, para o próprio equilíbrio mundial dadas as consequências que o desequilíbrio europeu traz às relações entre os principais blocos económicos.

Bernanke critica os que se limitam a interpretar o excedente comercial alemão apenas como o resultado inevitável da superioridade económica alemã e da sua capacidade de fabricação de produtos que todos apreciam pela sua qualidade e robustez. Ele mostra como o euro é hoje largamente favorável à economia alemã, não hesitando em confirmar que se a Alemanha vivesse com o seu marco como moeda teria que exportar seguramente a uma moeda que seria inevitavelmente bem mais apreciada do que o euro à sua cotação atual. Por outro lado, o excedente comercial alemão é o resultado de políticas macroeconómicas internas desproporcionadamente restritivas face à situação atual. Neste contexto, Ben Bernanke é claro ao considerar que o excedente comercial alemão (ver gráfico que abre este post) é um problema e não um resultado de sucesso: “Systems of fixed exchange rates, like the euro union or the gold standard, have historically suffered from the fact that countries with balance of payments deficits come under severe pressure to adjust, while countries with surpluses face no corresponding pressure.” (Sistemas de câmbios fixos, como a zona euro ou o padrão-ouro, experimentaram historicamente dificuldades pelo facto dos países deficitários serem fortemente pressionados para se ajustarem, enquanto que os excedentários não enfrentarem uma pressão idêntica). Propõe nesse sentido que os alemães corrijam carências infraestruturais investindo, melhorem a relação entre salários e crescimentos da produtividade aumentando os primeiros e promovendo reformas capazes de aumentar a despesa pública interna, tais como no mercado habitacional ou no sistema bancário.

Não é, meus senhores, nenhum aprendiz de Varoufakis que assim fala. É o ex-Governador do FED e um economista prestigiado no mainstream economics. E tem a história económica com ele e também a lucidez e a preparação.

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