Livre como um passarinho, rigoroso e acutilante como
poucos, poderia ser o mote para celebrar o regresso de Ben Bernanke às lides do
debate, depois de ser substituído por Janet Yellen à frente do FED – USA.
Pois não há dúvida que, num número reduzido de posts no
blogue do Brookings, Bernanke tem marcado o debate, pois não se trata de um
economista qualquer. Os seus ESSAYS ON THE GREAT DEPRESSION (Princeton
University Press, 2000) continuam a ser uma referência insubstituível para
muitos que se aventuram no estudo dos anos 29-30 e do seu significado para a
evolução do capitalismo no século XX e prolongamentos atuais. O seu último contributo foca-se no problema europeu e na sua análise da dissonância perigosa
que o excedente comercial alemão representa para o equilíbrio da zona euro e, indiretamente,
para o próprio equilíbrio mundial dadas as consequências que o desequilíbrio
europeu traz às relações entre os principais blocos económicos.
Bernanke critica os que se limitam a interpretar o
excedente comercial alemão apenas como o resultado inevitável da superioridade
económica alemã e da sua capacidade de fabricação de produtos que todos
apreciam pela sua qualidade e robustez. Ele mostra como o euro é hoje
largamente favorável à economia alemã, não hesitando em confirmar que se a
Alemanha vivesse com o seu marco como moeda teria que exportar seguramente a
uma moeda que seria inevitavelmente bem mais apreciada do que o euro à sua
cotação atual. Por outro lado, o excedente comercial alemão é o resultado de
políticas macroeconómicas internas desproporcionadamente restritivas face à
situação atual. Neste contexto, Ben Bernanke
é claro ao considerar que o excedente comercial alemão (ver gráfico que abre
este post) é um problema e não um resultado de sucesso: “Systems
of fixed exchange rates, like the euro union or the gold standard, have
historically suffered from the fact that countries with balance of payments
deficits come under severe pressure to adjust, while countries with surpluses
face no corresponding pressure.” (Sistemas
de câmbios fixos, como a zona euro ou o padrão-ouro, experimentaram
historicamente dificuldades pelo facto dos países deficitários serem fortemente
pressionados para se ajustarem, enquanto que os excedentários não enfrentarem
uma pressão idêntica). Propõe nesse sentido que os alemães corrijam carências
infraestruturais investindo, melhorem a relação entre salários e crescimentos
da produtividade aumentando os primeiros e promovendo reformas capazes de
aumentar a despesa pública interna, tais como no mercado habitacional ou no
sistema bancário.
Não é, meus senhores, nenhum aprendiz de Varoufakis que
assim fala. É o ex-Governador do FED e um economista prestigiado no mainstream economics. E tem a história
económica com ele e também a lucidez e a preparação.
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