terça-feira, 21 de abril de 2015

UM REFERENCIAL SÉRIO PARA UMA ALTERNATIVA POLÍTICA



Uma viagem de Alfa Pendular de Lisboa para o Porto depois de apresentar de manhã o Programa Estratégico 2015-2020 de Formação para o setor em mudança do Comércio e Serviços e já preparado para ver se o Dragão afastava os rígidos e sobranceiros bávaros (o Dante não ajudou ficando de fora) constituiu o “break” ideal para mergulhar a sério na cenarização macroeconómica e de políticas setoriais que acompanhará o programa de governo com que Costa e o PS se propõem forjar até ao outono uma alternativa de governação.

A primeira impressão de análise é a de que estamos perante um exercício sério e honesto, não deixando de ser ousado em certos domínios, com particular relevo para a legislação laboral e para alguns princípios de refinanciamento da Segurança Social, num clima transversal de relançamento dos rendimentos e da procura global interna. Certamente que caberá agora a António Costa e aos socialistas mais intuitivos e com maior poder de comunicação traduzir o cenário macroeconómico de aposta e de alternativa em princípios simples para conquistar o eleitorado ainda necessitado de maior evidência de que a alternativa é credível.

A construção do documento é engenhosa ao considerar como cenário central inicial o que corresponde essencialmente às previsões da Comissão Europeia para a economia portuguesa, cenário que não recolheu o agrado da atual maioria, mas que serve aos autores do documento como um referencial que pode ser agravado se as políticas de ajustamento persistirem na não criação de condições favoráveis à retoma do investimento e ao desagravamento da desigualdade e se a política europeia contribuir para a implosão da solidariedade entre excedentários e deficitários. É sobre o cenário central que os autores do exercício montam a estimativa do impacto orçamental de uma visão alternativa ao clima de empobrecimento como fator de ajustamento, no fundo um conjunto de medidas que visa relançar consumo, investimento e produto, continuando a apoiar o esforço de inovação e internacionalização das empresas portuguesas, neste último caso com utilização da vasta panóplia de instrumentos de política pública proporcionados pelos Fundos Estruturais. A apresentação do documento é pedagógica, pois identifica sempre com clareza o contexto que se pretende inverter, as propostas em questão e o seu impacto orçamental. Como é óbvio, num documento desta natureza há sempre desequilíbrios e este não foge à regra. Paira pelo documento a ideia de que o Estado deve ser um fator mais convicto de crescimento económico, numa espécie de invocação das teses de Mariana Mazzucato em tempo referenciadas neste blogue. Mas em meu entender há aqui trabalho a desenvolver, já que a alternativa de governação não herda uma situação famosa em termos de administração pública, sobretudo do ponto de vista da capacidade técnica e organizativa e sobretudo da preservação de conhecimento que a desmotivação, os cortes salariais e o clima de esvaziamento de lideranças acabaram por determinar.

Como matérias que vale a pena tratar melhor em próximos posts temos as propostas para o mercado de trabalho e para a segurança social.

Como afirma Paulo Trigo Pereira membro do grupo autor do documento não estamos nem perante sábios, nem alquimistas. Estamos perante uma proposta séria de abordagem alternativa aos meandros da crise nacional. Que o PS tenha a capacidade e a sabedoria de utilizar este referencial para retomar o comando do debate político é a minha esperança. Pode a maioria esmerar-se em tudo que seja truque de discussão, não discutindo. Mas não evitará que um simples documento ponha em guarda os que sempre afirmaram não haver alternativa, mais ou menos arriscada. Transformemos as ideias do documento em matéria de escrutínio democrático.

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