segunda-feira, 20 de abril de 2015

A TAP CHEIRA-ME A ESTURRO



Não me considero um intuitivo da política. A intuição ganha-se com a prática de estar na cabeça do touro e no meu caso nem sequer entrei na praça, muito menos na arena. Mas, de quando em vez, face a algumas situações, tenho a intuição de que esse não é o caminho por onde uma alternativa de governação à atual maioria deve caminhar e explorar caminhos.

A TAP é uma dessas situações em que a minha intuição me diz que o PS, cavalgando essa frente, arrisca-se a ser chamuscado. Porque o problema não é privatizar ou não privatizar em abstrato. O problema é privatizar ou não privatizar em função do contexto concreto em que a empresa se encontra, e essa situação é o resultado de um processo cumulativo em que muitos erros foram praticados, a começar pela gestão de Fernando Pinto, sobretudo quando embarcou na miragem da compra da empresa brasileira de manutenção. E como já referi aqui outras vezes é também um problema de escolhas públicas para recursos públicos que não são abundantes e sem o espectro dessas escolhas públicas para uma alternativa de verdade e ganhadora não embarco em manifestações afetivas por mais que isso incomode ao promotor do não me TAP os olhos.

Ora, hoje, o inefável e sempre gorduroso José Manuel Fernandes vem, no Observador, e está no seu papel e no espírito daquele órgão de informação, trazer para o debate lenha e que lenha. A estranha invocação que os pilotos vieram fazer de uma promessa governamental que lhes assegurava a participação no capital da empresa num eventual processo de privatização situa-se algures numa negociação promovida pelo então presidente da TAP Norberto Pilar, certamente com a anuência do então ministro Cravinho. A anuência é presumidamente demonstrada por JMF através da citação de despachos assinados pelo próprio João Cravinho. Ora acontece que o ex-ministro Cravinho vociferou recentemente contra os ditos pilotos, acusando-os de má-fé e de dolo.

O mínimo que se pode exigir de Cravinho é uma explicação cabal das razões da acusação de má-fé e de dolo dos pilotos sobretudo em contexto de invocação de uma promessa de benesse que presumidamente ele próprio ajudou a consumar. A história tem de ser contextualizada e Cravinho pode e deve ajudar-nos a compreender o contexto em que terá produzido o referido despacho agora invocado por JMF.
Toda a gente compreende a relevância de Cravinho em alguns dossiers da democracia portuguesa. Porém, a mim nunca me convenceu a sua passagem pelo dossier das parcerias público-privadas e a forma como engoliu alguns contactos leoninos. Ao contrário do que muita boa gente pensa, acho que saiu salpicado desse processo. Espero que, desta vez, possa contextualizar devidamente o seu despacho.

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