Não me considero um intuitivo da política. A intuição
ganha-se com a prática de estar na cabeça do touro e no meu caso nem sequer entrei
na praça, muito menos na arena. Mas, de quando em vez, face a algumas situações,
tenho a intuição de que esse não é o caminho por onde uma alternativa de governação
à atual maioria deve caminhar e explorar caminhos.
A TAP é uma dessas situações em que a minha intuição me
diz que o PS, cavalgando essa frente, arrisca-se a ser chamuscado. Porque o
problema não é privatizar ou não privatizar em abstrato. O problema é
privatizar ou não privatizar em função do contexto concreto em que a empresa se
encontra, e essa situação é o resultado de um processo cumulativo em que muitos
erros foram praticados, a começar pela gestão de Fernando Pinto, sobretudo
quando embarcou na miragem da compra da empresa brasileira de manutenção. E
como já referi aqui outras vezes é também um problema de escolhas públicas para
recursos públicos que não são abundantes e sem o espectro dessas escolhas públicas
para uma alternativa de verdade e ganhadora não embarco em manifestações
afetivas por mais que isso incomode ao promotor do não me TAP os olhos.
Ora, hoje, o inefável e sempre gorduroso José Manuel Fernandes vem, no Observador, e está no seu papel e no espírito daquele órgão de
informação, trazer para o debate lenha e que lenha. A estranha invocação que os
pilotos vieram fazer de uma promessa governamental que lhes assegurava a
participação no capital da empresa num eventual processo de privatização
situa-se algures numa negociação promovida pelo então presidente da TAP
Norberto Pilar, certamente com a anuência do então ministro Cravinho. A anuência
é presumidamente demonstrada por JMF através da citação de despachos assinados
pelo próprio João Cravinho. Ora acontece que o ex-ministro Cravinho vociferou recentemente
contra os ditos pilotos, acusando-os de má-fé e de dolo.
O mínimo que se pode exigir de Cravinho é uma explicação
cabal das razões da acusação de má-fé e de dolo dos pilotos sobretudo em
contexto de invocação de uma promessa de benesse que presumidamente ele próprio
ajudou a consumar. A história tem de ser contextualizada e Cravinho pode e deve
ajudar-nos a compreender o contexto em que terá produzido o referido despacho
agora invocado por JMF.
Toda a gente compreende a relevância de Cravinho em
alguns dossiers da democracia portuguesa. Porém, a mim nunca me convenceu a sua
passagem pelo dossier das parcerias público-privadas e a forma como engoliu alguns
contactos leoninos. Ao contrário do que muita boa gente pensa, acho que saiu
salpicado desse processo. Espero que, desta vez, possa contextualizar
devidamente o seu despacho.
Sem comentários:
Enviar um comentário