Hoje, domingo de canícula desproporcionada, mas dia de “old-age sitting”, há por isso tempo que
sobre para leituras variadas, muito na linha do leitor acidental, que gosta de
ser surpreendido com livros que lhe aparecem vá lá saber-se donde. A FNAC do
Vasco da Gama em Lisboa está cada vez menos apetecível em livros e discos que
valha a pena, mas como a Gare do Oriente continua desagradável para gozar uns
minutos mais alargados de espera, é lá que me refugio por vezes.
Por isso, sexta-feira passada, em mais uma dessas esperas
que justifica uma ida apesar de tudo ao Vasco da Gama, lá me apareceu uma
dessas obras que passou e à qual não dei a importância devida, não na
perspetiva do seu valor absoluto, mas pela personalidade envolvida, Susan
Sontag, a intelectual da madeixa branca e que eu considero ser um ícone da
cultura contemporânea. O livro que me tinha escapado e que praticamente devorei
na viagem para o Porto reproduz na íntegra o material da entrevista de Susan
Sontag a Jonathan Cott na Rolling Stone, em edição publicada pela Yale University Press.
Na obra de Sontag sempre me fascinou o modo como o amar,
o desejo e o pensamento, o amor e o trabalho, desejo e conhecimento se combinam
num todo praticamente indissociável. Na obra agora por mim redescoberta, uma
simples entrevista, Susan Sontag contextualiza-a devidamente e adquire por isso
um outro significado, mais amplo:
“Gosto da forma entrevista e isso acontece por
gosto de conversar, gosto do diálogo, e sei que uma grande parte do meu
pensamento é produto de conversação. De certo modo, a pior coisa da escrita é
que estamos sós e temos de conversar connosco próprios, o que é uma atividade
antinatural. Gosto de conversar com pessoas – é isso que não faz de mim uma
reclusa – e a conversa permite-me saber o que é que eu penso. A audiência não
me interessa porque é uma abstração, mas quero sem dúvida saber o que qualquer
indivíduo pensa e isso requer uma relação face-to-face.”
A viagem de Alfa passou num ápice.
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