Só posso, obviamente, fazer minhas as últimas palavras do António Figueiredo neste nosso espaço. Todas, respeitem elas à nossa triste e reveladora transformação em “obituário dos grandes que nos vão deixando” ou à grandeza pessoal e profissional do economista que há poucas horas abandonou este mundo. Serei, pois, necessariamente curto e grosso no meu elogio, sublinhando apenas a amplitude (porque foi quase tudo) e a normalidade (porque esteve sempre, ora acertando muitas vezes ora errando por vezes) de José Silva Lopes (JSL) enquanto homem público e cidadão empenhado: andou pelos ministérios da Economia e Finanças antes do 25 de Abril, acompanhou o processo de adesão de Portugal à EFTA e negociou o Acordo de Comércio Livre com a CEE, fez parte dos quatro primeiros governos provisórios posteriores a 1974, foi governador do Banco de Portugal, teve funções de consultoria junto do FMI e do Banco Mundial, apoiou o PRD de Eanes em 1985 e desempenhou atividade parlamentar nesse quadro, foi administrador do BERD, presidiu ao Conselho Económico e Social e reformou-se após ter estado ao comando do Montepio Geral.
Nesta conjuntura desgraçada que estamos a atravessar, JSL vai fazer ainda mais falta. Pela independência, competência e frontalidade das suas análises, pelas contas certas que nos trazia naqueles papelinhos em que sistematizava os resultados de muitas horas de trabalho sério, pelo respeito que infundia nos mais ortodoxos e dogmáticos dos seus colegas de profissão, pela contenção que impunha nas cassandras que grassam pelo comentário económico nacional, pela auto-inclusiva superioridade moral com que sempre abordava as propostas menos populares que vinha convictamente defender. Há dias maus, mesmo demasiado maus...
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