sábado, 11 de abril de 2015

ENCRENCADAS NO PS


(Roger Beale, http://www.ft.com)

O partido diz-se democrático, plural, aberto e tantas coisas mais desse teor ou aproximado que ficam sempre bem em qualquer lapela ou circunstância. Acrescentando-se que, no PS, cada um pensa pela sua cabeça e ponto final, está-lhe na massa do sangue (dizem uns) ou no código genético (referem os mais amigos da ciência) e essa até é uma das suas grandes razões de afirmação e força. Seja então, conceda-se, e siga a rusga!

Ou talvez não. No que toca à minha muito própria sensibilidade ao assunto, inclino-me para uma interpretação algo mais prosaica, que já foi aliás amiudadas vezes comprovada nestas décadas de democracia que levamos: a de que um certo PS faz, as mais das vezes, um partido sem rei nem roque, uma organização pouco amiga da reflexão e do debate para a ação e sobretudo determinada em última instância pelas benesses que o poder confere e pelos interesses que protege, uma entidade que serve de pretexto a muitos para nela tentarem encontrar a melhor satisfação possível dos seus narcísicos e egocêntricos anseios ou das suas sôfregas e megalómanas ambições.


A história repete-se agora, mais arrebique menos arrebique, quanto à hipotética candidatura presidencial de António Sampaio da Nóvoa: e é vê-los numa dobadoira à procura infatigável da câmara, do microfone, do foco de luz ou da rede social para onde melhor e mais rapidamente possam atirar as suas raras e iluminadas opiniões (?), a nenhum ocorrendo que a filiação partidária que escolheram adotar lhes deveria impor algum recato em termos de exposição pública quanto a posições polémicas e potencialmente prejudiciais ao próprio coletivo em que se inscreveram. E é assim que me pergunto o que poderá ser comum a Sérgio e Vera, Beleza e Brilhante, Canas e Lello, entre tantos socialistas que por estes dias vieram berrar ao desafio contra Nóvoa, o radical, o desconhecido, o independente? Avisando que a ordem seguinte dos fatores é arbitrária, sempre direi que haverá uns que falam porque têm receio de empachar, outros que simplesmente andam mal dispostos, outros mais porque não se refizeram dos efeitos da derrota do “segurismo”, outros também porque acham que não estão a ter o tratamento interno que o seu brilho mereceria, outros ainda porque estão numa de “então e o meu padrinho” e outros finalmente porque lhes passa pela cabeça a hipótese do “cadê eu”. E, com Guterres a ter a inteligência e o bom senso de não voltar (o que aplaudo por variadas razões!), Vitorino a estar inibido de quaisquer veleidades na matéria e Gama a sentir-se demasiado maçado só de pensar no assunto quanto mais no que lhe sobraria para os restantes cinco anos, até já houve quem defendesse a candidatura de Luís Amado (podem acreditar que eu ouvi em direto!) ou mesmo de Edite Estrela...

Dentro da área socialista, mais comedidos têm sido outros críticos do ex-Reitor da Universidade de Lisboa. Como é o caso de Vital, ele que ao menos não paga quotas nem quis assumir formalmente as fidelidades mínimas a que uma militância sempre deveria obrigar – talvez porque Vital já foi membro do PCP e alguns princípios desses lhe tenham ficado registados, como aliás também lhe ficou – mas essa já é toda uma outra questão – aquela ortodoxia com que lamentavelmente continua a pautar muitas das suas posições públicas, recusando a existência da cor cinzenta entre o preto e o branco e assim prejudicando subjetivamente o rigor analítico de que é objetivamente detentor.


Dito tudo isto, não quero deixar quaisquer confusões a pairar. Nem quanto às convicções de natureza socialista com que claramente me identifico, nem quanto à insubstituibilidade do PS no panorama político português, nem quanto à confiança que deposito na liderança de António Costa (AC). Porque, independentemente da justeza das especulações do meu colega de blogue, teimoso ou não, triunfalista ou não, bem rodeado ou não, AC é hoje a personalidade portuguesa melhor preparada e politicamente mais eficaz para tentar abanar isto tudo. E o sentido de serviço que louvo em AC cresce na proporção direta do destemperado falatório de todas essas vedetas de primeira grandeza que o circundam, admirando-lhe com sinceridade a paciência aparentemente evangélica (que também é cívica) com que encaixa tanta prima donna e tanta capacidade de estragar...

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