terça-feira, 14 de abril de 2015

INDÚSTRIA 4.0 OU INTERNET INDUSTRIAL




Os observadores do tempo longo em economia e particularmente aqueles que concentram a sua atenção na tecnologia na sua aceção mais ampla de construção societal em transformação permanente têm estado nos últimos tempos atentos às interrogações que estão a ser colocadas quanto ao momento da revolução tecnológica em que as economias avançadas de mercado se encontram. Há quem como o economista Robert Gordon se interrogue sobre se a revolução tecnológica das tecnologias de informação e comunicação não se encontrará já em fase de rendimentos decrescentes. E aqui a indeterminação do processo inovação, quer como fenómeno tecnológico, quer como transformação social mais lata envolvendo a coevolução de tecnologia e instituições, assinala os limites dos economistas. Podemos estudar as regularidades do passado, mas pouco podemos fazer do ponto de vista de utilizar os resultados dessa nova investigação para antecipar as ondas longas do progresso tecnológico. O que sabemos é que cada grande revolução tecnológica desenvolve as suas fases de expansão e de declínio em períodos que não excedem regra geral os cinquenta anos, fundamentalmente organizadas em torno de um recurso chave, seja nos últimos tempos a energia ou no momento atual a informação acumulada num simples chip. Sabemos também que as grandes revoluções tecnológicas se sobrepõem historicamente, ou seja, que o declínio de uma era coexiste com a emergência ainda difusa de uma nova era e por isso não sabemos se estaremos ou não numa dessas fases, em que não somos ainda capazes de prefigurar com rigor qual vai ser o próximo motor da revolução tecnológica. E nada nos garante também que o próximo futuro mantenha as regularidades do passado pós revolução industrial. É esta limitação que explica que em meu entender os economistas do tempo longo sejam menos arrogantes e deterministas do que os que se ocupam da macroeconomia de curto prazo.

Vem tudo isto a propósito do McKinsey Quarterly 2015, nº1, que entre outro material precioso, se debruça sobre o futuro do digital na formação das cadeias de valor económico, regra geral denominada Indústria 4.0 ou também Internet industrial (designação criada pela General Electric nos EUA). Esta referência vem em linha com o longo parágrafo anterior, uma vez que a chamada Indústria 4.0 é precisamente um dos domínios tecnológicos que alguns especialistas identificam como sendo o que vai continuar a proporcionar o ritmo de evolução tecnológica e de crescimento da produtividade que os teóricos da estagnação secular por estancamento da dinâmica tecnológica. Estamos a falar por essa via em equipamentos de nova geração, como as impressoras a três dimensões, a robótica e fábricas automáticas adaptativas, produtos acabados inteligentes e toda a indústria de processamento de big data.

O artigo da McKinsey compara o caráter disruptivo do consumo via comércio eletrónico em que se estima que a Internet terá contribuído com 1,7 milhões de milhões de dólares para o PIB mundial com a situação também potencialmente disruptiva da Internet industrial que pode significar cerca de 50 milhares de milhões de máquinas inteligentes conectadas A NÍVEL GLOBAL. Nesse mesmo artigo, dá-se conta de um inquérito promovido pela McKinsey a um conjunto de altos executivos empresariais pertencentes a grupos empresariais que recentemente aderiram ao Digital Manufacturing And Design Innovation Institute que reúne cerca de 200 organizações dom mundo empresarial, governo e universidades com o objetivo de promover a integração do digital na indústria transformadora. E aqui os resultados são surpreendentes (ver gráfico inicial): embora 80% dos entrevistados aponte o digital como um fator chave de competitividade futura, apenas 13% dos mesmos considera que a sua organização está dotada das capabilities digitais apropriadas e apenas também 37% afirma ter uma estratégia para o problema.

Esta informação é preciosa para compreender em que medida a Indústria 4.0 ou a Internet Industrial não está ainda a produzir os efeitos típicos de uma revolução tecnológica, ou seja, implicando o emprego, o investimento e a produtividade para além das 200 + que integram atualmente o DMDII. Será tudo uma questão de tempo. Mas aqui também os economistas do tempo longo sabem que as tecnologias não se disseminam todas à mesma velocidade. Num mundo de múltiplos equilíbrios possíveis, há encruzilhadas que nem sempre se resolvem do modo mais apropriado para uma disseminação mais rápida das tecnologias motoras.

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