Os observadores do tempo longo em economia e
particularmente aqueles que concentram a sua atenção na tecnologia na sua
aceção mais ampla de construção societal em transformação permanente têm estado
nos últimos tempos atentos às interrogações que estão a ser colocadas quanto ao
momento da revolução tecnológica em que as economias avançadas de mercado se
encontram. Há quem como o economista Robert Gordon se interrogue sobre se a
revolução tecnológica das tecnologias de informação e comunicação não se
encontrará já em fase de rendimentos decrescentes. E aqui a indeterminação do
processo inovação, quer como fenómeno tecnológico, quer como transformação
social mais lata envolvendo a coevolução de tecnologia e instituições, assinala
os limites dos economistas. Podemos estudar as regularidades do passado, mas
pouco podemos fazer do ponto de vista de utilizar os resultados dessa nova
investigação para antecipar as ondas longas do progresso tecnológico. O que
sabemos é que cada grande revolução tecnológica desenvolve as suas fases de
expansão e de declínio em períodos que não excedem regra geral os cinquenta
anos, fundamentalmente organizadas em torno de um recurso chave, seja nos
últimos tempos a energia ou no momento atual a informação acumulada num simples
chip. Sabemos também que as grandes
revoluções tecnológicas se sobrepõem historicamente, ou seja, que o declínio de
uma era coexiste com a emergência ainda difusa de uma nova era e por isso não
sabemos se estaremos ou não numa dessas fases, em que não somos ainda capazes
de prefigurar com rigor qual vai ser o próximo motor da revolução tecnológica.
E nada nos garante também que o próximo futuro mantenha as regularidades do
passado pós revolução industrial. É esta limitação que explica que em meu
entender os economistas do tempo longo sejam menos arrogantes e deterministas
do que os que se ocupam da macroeconomia de curto prazo.
Vem tudo isto a propósito do McKinsey Quarterly 2015, nº1, que entre outro material precioso, se
debruça sobre o futuro do digital na formação das cadeias de valor económico,
regra geral denominada Indústria 4.0 ou também Internet industrial
(designação criada pela General Electric nos EUA). Esta referência vem em linha
com o longo parágrafo anterior, uma vez que a chamada Indústria
4.0 é precisamente um dos
domínios tecnológicos que alguns especialistas identificam como sendo o que vai
continuar a proporcionar o ritmo de evolução tecnológica e de crescimento da
produtividade que os teóricos da estagnação secular por estancamento da
dinâmica tecnológica. Estamos a falar por essa via em equipamentos de nova
geração, como as impressoras a três dimensões, a robótica e fábricas automáticas
adaptativas, produtos acabados inteligentes e toda a indústria de processamento
de big data.
O artigo da McKinsey compara o caráter disruptivo do
consumo via comércio eletrónico em que se estima que a Internet terá
contribuído com 1,7 milhões de milhões de dólares para o PIB mundial com a
situação também potencialmente disruptiva da Internet industrial que pode
significar cerca de 50 milhares de milhões de máquinas inteligentes conectadas
A NÍVEL GLOBAL. Nesse mesmo artigo, dá-se conta de um inquérito promovido pela
McKinsey a um conjunto de altos executivos empresariais pertencentes a grupos
empresariais que recentemente aderiram ao Digital
Manufacturing And Design Innovation Institute que reúne cerca de 200 organizações dom mundo
empresarial, governo e universidades com o objetivo de promover a integração do
digital na indústria transformadora. E aqui os resultados são surpreendentes
(ver gráfico inicial): embora 80% dos entrevistados aponte o digital como um
fator chave de competitividade futura, apenas 13% dos mesmos considera que a
sua organização está dotada das capabilities
digitais apropriadas e apenas
também 37% afirma ter uma estratégia para o problema.
Esta informação é preciosa para compreender em que medida
a Indústria 4.0 ou a Internet Industrial não está ainda a produzir os efeitos
típicos de uma revolução tecnológica, ou seja, implicando o emprego, o
investimento e a produtividade para além das 200 + que integram atualmente o
DMDII. Será tudo uma questão de tempo. Mas aqui também os economistas do tempo
longo sabem que as tecnologias não se disseminam todas à mesma velocidade. Num
mundo de múltiplos equilíbrios possíveis, há encruzilhadas que nem sempre se
resolvem do modo mais apropriado para uma disseminação mais rápida das
tecnologias motoras.
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