sábado, 18 de abril de 2015

O PAPEL ACEITA TUDO...

(Gary Waters, http://www.imf.org)

Por estes dias, foram divulgados dois importantes documentos económicos: o primeiro “World Economic Outlook” do ano, o “check-up” semestral do Fundo Monetário Internacional sobre a economia mundial e suas condicionantes macroeconómicas e comportamentais e principais perspetivas de evolução (no plano global, por grandes zonas/regiões e por países individualizados), e a mais paroquial proposta de “Programa de Estabilidade 2015-2019” que o Governo remeteu à Assembleia da República e Portugal se prepara para remeter à Comissão Europeia no cumprimento das regras comunitárias estabelecidas.

Sobre um e o outro muito há e haverá a analisar, sendo que por ora me ficarei por um exercício simples mas que não deixa de ser assaz curioso: comparar as projeções realizadas em ambos os documentos relativamente a algumas variáveis respeitantes à economia portuguesa, no caso o crescimento do PIB, a evolução do saldo orçamental e a trajetória da dívida pública. O “teste”, chamemos-lhe assim, não podia ser mais elucidativo quanto à natureza – incompetente, chico-esperta ou desonesta – da governação que (ainda) temos. E embora a mera comparação das linhas azuis e vermelhas dos três gráficos abaixo chegasse para fundamentar a minha afirmação, insisto em sublinhar as seguintes discrepâncias:

· a nossa taxa de crescimento económico, após os 1,6% a registar este ano, ou saltará para a casa dos dois e picos por cento (diz o Governo) ou recuará para níveis abaixo dos 1,5% (sugere o FMI);

· o nosso défice público, que o Governo continua a jurar que ficará nos 2,7% do PIB este ano (o FMI não acredita e prevê 3,2%), ou recuperará exponencialmente até que se atinja um excedente em 2019 (promete o Governo) ou recuperará marginalmente e situar-se-á nos 2,5% no final do próximo quadriénio (adianta o FMI);

· a nossa dívida pública, por fim, ou cairá com alguma significância e descerá para um valor a tender para os 100% do PIB (indica o Governo) ou quase estabilizará acima dos 120% (contrapõe o FMI).

É que é como da água para o vinho!



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