segunda-feira, 27 de abril de 2015

PODEMOS OU PODERÍAMOS …

(Enrique Flores para o El País)


A longa gestação das próximas eleições em Espanha, com os dados lançados já há bastante tempo, constitui um verdadeiro laboratório político, equacionando como matéria de investigação o comportamento das forças políticas em presença por via dos seus resultados em sondagens.

Há matéria que baste.

Em primeiro lugar, importa analisar em que medida vai o PP resistir, não propriamente ao facto de ter protagonizado o processo de ajustamento com a penosidade social conhecida, mas sobretudo pelo motivo de nos últimos tempos não haver praticamente dia em que um escândalo de corrupção não salpique o partido.

Em segundo lugar, há espaço para avaliar em que medida uma jovem liderança do PSOE, em parte alavancado pela vitória eleitoral na Andaluzia, é verdade que protagonizada por uma Susana Diáz que pode aspirar a mais altos voos no PSOE, é capaz de se identificar com a raiva popular e um amplo movimento de indignação que tem atravessado a sociedade espanhola.

Depois e não menos importante, existe a matéria dos partidos antissistema, com o PODEMOS à esquerda e o CIUDADANOS à direita, com os quais PSOE e PP travam uma batalha sem tréguas pela fixação ou conquista de novo eleitorado.

A prestigiada Cuarta Página do El País publica hoje uma análise sugestiva sobre a perda de andamento eleitoral que o PODEMOS tem vindo a experimentar, estimada neste momento em cerca de seis pontos percentuais que o situa hoje abaixo dos 20% bem longe dos 28% que já representou na opinião pública potencialmente eleitora. O artigo de Ignacio Urquizu lança para a explicação desta queda três argumentos que vale a pena discutir, pois tem analogia possível com a situação portuguesa. O primeiro argumento prende-se com a palavra volatilidade e de facto nesta matéria são os partidos antissistema a ser mais penalizados por essa característica de uma faixa relevante do eleitorado. O segundo argumento prende-se com uma distinção estabelecida pelos ideólogos e militantes do PODEMOS entre velha e nova política, a qual regra geral não resiste à disputa do terreno da governação pelas forças políticas desafiadoras que se reclamam de fora do sistema. O terceiro argumento diz respeito à carga sociológica do eleitorado espanhol que será ainda de centro-esquerda.

Reunindo todas estas peças e não deixando de ter em conta o efeito penalizador que a revelação de algumas amizades internacionais do PODEMOS terá produzido no eleitorado da indignação, Urquizu invoca a ideia de que a ascensão e quebra do entusiasmo do PODEMOS não é coisa que não se tenha já visto noutras forças políticas, obrigadas a optar entre a defesa dos princípios originais e a sua adaptação aos condicionantes eleitorais.

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