(Enrique Flores para o El País)
A longa gestação das próximas eleições em Espanha, com os
dados lançados já há bastante tempo, constitui um verdadeiro laboratório político,
equacionando como matéria de investigação o comportamento das forças políticas
em presença por via dos seus resultados em sondagens.
Há matéria que baste.
Em primeiro lugar, importa analisar em que medida vai o
PP resistir, não propriamente ao facto de ter protagonizado o processo de
ajustamento com a penosidade social conhecida, mas sobretudo pelo motivo de nos
últimos tempos não haver praticamente dia em que um escândalo de corrupção não
salpique o partido.
Em segundo lugar, há espaço para avaliar em que medida
uma jovem liderança do PSOE, em parte alavancado pela vitória eleitoral na
Andaluzia, é verdade que protagonizada por uma Susana Diáz que pode aspirar a mais
altos voos no PSOE, é capaz de se identificar com a raiva popular e um amplo
movimento de indignação que tem atravessado a sociedade espanhola.
Depois e não menos importante, existe a matéria dos
partidos antissistema, com o PODEMOS à esquerda e o CIUDADANOS à direita, com
os quais PSOE e PP travam uma batalha sem tréguas pela fixação ou conquista de
novo eleitorado.
A prestigiada Cuarta Página do El País publica hoje uma
análise sugestiva sobre a perda de andamento eleitoral que o PODEMOS tem vindo
a experimentar, estimada neste momento em cerca de seis pontos percentuais que
o situa hoje abaixo dos 20% bem longe dos 28% que já representou na opinião pública
potencialmente eleitora. O artigo de Ignacio Urquizu lança para a explicação
desta queda três argumentos que vale a pena discutir, pois tem analogia possível
com a situação portuguesa. O primeiro argumento prende-se com a palavra
volatilidade e de facto nesta matéria são os partidos antissistema a ser mais penalizados
por essa característica de uma faixa relevante do eleitorado. O segundo
argumento prende-se com uma distinção estabelecida pelos ideólogos e militantes
do PODEMOS entre velha e nova política, a qual regra geral não resiste à
disputa do terreno da governação pelas forças políticas desafiadoras que se
reclamam de fora do sistema. O terceiro argumento diz respeito à carga sociológica
do eleitorado espanhol que será ainda de centro-esquerda.
Reunindo todas estas peças e não deixando de ter em conta
o efeito penalizador que a revelação de algumas amizades internacionais do
PODEMOS terá produzido no eleitorado da indignação, Urquizu invoca a ideia de
que a ascensão e quebra do entusiasmo do PODEMOS não é coisa que não se tenha já
visto noutras forças políticas, obrigadas a optar entre a defesa dos princípios
originais e a sua adaptação aos condicionantes eleitorais.
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