Em tempo de vertigem de obituários, na New Yorker digital de hoje que me chega todos os dias via correio eletrónico, temos uma crónica
singela de Salman Rushdie sobre a memória e obra de Gϋnter Grass.
Uma curta citação permite descobrir como é que um grande
via outro grande:
“(…) No seu 70º aniversário, muitos
escritores – Nadine Gordimer, John Irving e toda a literatura alemã – reuniram-se
para cantar felicitando Grass no Thalia Theatre em Hamburgo, mas do que me
lembro melhor é que quando se cantaram os parabéns e a música começou a tocar,
o palco do teatro tornou-se um palco de dança e Grass revelou-se um mestre do
que designo de dança coletiva. Ele dançava a valsa, a polka, o fox-trote, o
tango e a gavotte e parecia que as raparigas mais bonitas faziam fila para dançar
com ele. À medida que, deliciado, se balanceava, rodopiava e mergulhava, na
dança, compreendi que ele era isso mesmo: o grande dançarino da literatura alemã,
dançando pelos horrores em direção a uma literatura de beleza, sobrevivendo ao
diabo devido à sua graça pessoal e ao seu sentido do ridículo. Aqueles
jornalistas que pretenderam que o criticasse em 1982, disse: talvez ele tenha
de morrer para compreenderem o grande homem que perderam. Esse tempo chegou.
Espero que o tenham compreendido.”
Sem comentários:
Enviar um comentário