domingo, 19 de abril de 2015

PERTINÊNCIAS INTERMITENTES


Daniel Bessa e Fernando Ulrich têm sido objeto de críticas neste espaço pela sua truculência e/ou despropósito. Pois chegou hoje a vez de aqui lhes deixar uma nota de sentido positivo. Ao primeiro pela forma elegante como, na sua coluna do “Expresso”, aproveitou a indignação acusatória de Jerónimo de Sousa sobre uma alegada transformação de Portugal na Singapura da Europa: “qual seria o problema?”, perguntava, para concluir assim: “Tenho a obrigação de saber que a vida não se resume a estas dimensões, predominantemente económicas e de desenvolvimento económico. Há questões de cultura, de modos de vida, de liberdade, de sistema político. Parece-me que seria melhor, em qualquer caso, não desvalorizar, no seu todo, um dos casos de maior sucesso do mundo contemporâneo, de que beneficiam mais de 5,5 milhões de pessoas, a que legitimamente pode aspirar (porque não) a maior parte dos 10 milhões de portugueses.”

Ao presidente do BPI pela frontalidade com que dirigiu um dedo acusador a uma das maiores pechas da estratégia (?) seguida pelo governo português no domínio das privatizações. Para devido registo, aqui ficam as suas justas palavras (que não deixaram, no entanto, de aproveitar a boleia do tema para um piscar de olhos aos seus acionistas angolanos): “A mim, faz-me muita impressão que haja num espaço de tempo tão curto tanto investimento chinês em Portugal setores tão importantes da economia portuguesa. (...) Penso que é demais, penso que ser o porta-aviões chinês na Europa e para a Europa não é o destino que eu mais goste para Portugal. Quando se fala, por exemplo de Angola, (...) há sempre umas almas santas e puras que falam nas ligações do poder político angolano à economia e que há pessoas que são PEPs, são politically exposed persons, e depois eu leio no Financial Times que o presidente da Fosun, que agora é dono de um terço do setor segurador português, é um membro do comité central do partido comunista chinês, etc. e, portanto, os chineses podem estar na política e ser da política e as suas empresas obedecerem ao partido e virem por aí fora e comprar tudo. Quando estamos a falar de outros países mais pequenos – que a única diferença que eu vejo é a diferença de dimensão – já aqui d’el-rei que não são transparentes ou não são isto ou não são aquilo. Eu confesso que me choca, isto é um problema até europeu, para mim, vai para além de Portugal mas, quer dizer, a mim choca-me. Aqui há tempos também se falava de um outro país africano e que havia um grande problema porque nesse país africano havia pena de morte; eu penso que na China, não sei se ainda há, mas há pouco tempo ainda havia e sobre a China ninguém diz nada. E portanto, olhe, eu confesso que também me sabe muito bem que o dinheiro chinês venha por aí fora, olhe, este ano tudo o que tínhamos lá de imóveis em boas zonas para vender, vendemos tudo a investidores chineses, portanto foi ótimo, deu imenso jeito e, portanto, o BPI também tira partido, nomeadamente o nosso fundo de pensões, de dinheiro chinês. Mas que entendo que o que está a acontecer em Portugal é demais, entendo e penso isso desde a operação da EDP. Eu gostava mais de ver crescer em Portugal o investimento alemão e o investimento americano, por exemplo, ou o nórdico porque historicamente foi quem trouxe tecnologias para Portugal e quem criou emprego em Portugal e quem nos ajudou a abrir mercados e a exportar. E o que eu vejo no investimento chinês é que vêm comprar as melhores empresas que nós fizemos, mas até agora ainda não vi grande contributo para o futuro e, sobretudo, grande contributo para o futuro para resolver os problemas que foram aqui discutidos hoje ao longo desta manhã.”

De facto, antes tendermos para uma espécie de Singapura da Europa do que tornarmo-nos uma serviçal colónia do capitalismo de Estado chinês...

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