(Fonte Pequena, Alte, Loulé)
Em jornada de trabalho por terras algarvias, que envolveu comboio, automóvel
e avião (sempre cheio o Faro-Porto da Ryanair, o que continua a ser um mistério,
já que não é apenas turismo interno), tive mais uma vez a oportunidade de
mergulhar na baixa densidade algarvia, neste caso o interior de Loulé, um dos
mais expressivos municípios algarvios.
A visita de lugares como Alte, Salir, Tôr, Querença, estes ainda num raio
de proximidade tempo e geográfica ao litoral e Ameixial, este último já um
lugar longínquo e paredes meias com o concelho de Almodôvar no Baixo Alentejo
mais profundo, no caminho da velha EN2 para Beja, confirmou mais uma vez a
minha perceção do espantoso esforço de infraestruturação básica que os territórios
do interior e da baixa densidade algarvia experimentaram nos últimos 30 anos,
Loulé seguramente. A perceção visual dos lugares que ontem visitei, com expressões
demográficas muito diferenciadas, mas todos em queda, revela-nos territórios
nos antípodas do abandono e da morte lenta. Nota-se o investimento público
local e aqui e ali, pontualmente, a resposta ainda tímida do investimento privado,
renovando algumas habitações, para turismo e talvez residência de fim-de-semana
que completam o estado da arte. Em todos estes lugares, subsiste alguma energia
e capacidade de iniciativa cultural, que vai aguentando alguma dinâmica de
animação sobretudo no verão. Algumas âncoras culturais são visíveis, o polo
museológico e centro interpretativo de Alte (em torno da personagem do poeta Cândido
Guerreiro) e a Fundação Manuel Viegas Guerreiro (Antropólogo) em Querença
ilustram essa realidade. Em todos estes lugares, o turismo de descoberta está
presente e pressente-se nos visitantes e caminhantes uma sensação de
identificação com o território.
O mais difícil, estancar a não fixação de população e criar alguma dinâmica
de criação de emprego, é agora a condição limite para que todo aquele
investimento público de qualificação tenha algum retorno.
E já de mochila aviada em direção ao aeroporto, o regresso a um dos meus
fetiches algarvios, o pequenino núcleo urbano de S. Lourenço, onde ainda
sobressai, altaneiro e único, o Centro Cultural S. Lourenço, hoje fechado por
impossibilidade da viúva alemã de alimentar a dinâmica de outros tempos. Este núcleo
fetiche é para mim o símbolo das contradições algarvias, pois o núcleo que
inclui uma Escola Primária com vida, está no meio de uma completa ilegibilidade
da EN 125, com desvios e mais desvios, completamente cortado do núcleo urbano
de Almancil.
É preciso recuperar a dinâmica cultural de outros tempos do Centro Cultural
de S. Lourenço, pelo menos em honra da memória de gente como Gunter Grass que a
ele dedicou muita afeição e apreço.
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