quarta-feira, 29 de abril de 2015

O MAIS DIFÍCIL

(Fonte Pequena, Alte, Loulé)


Em jornada de trabalho por terras algarvias, que envolveu comboio, automóvel e avião (sempre cheio o Faro-Porto da Ryanair, o que continua a ser um mistério, já que não é apenas turismo interno), tive mais uma vez a oportunidade de mergulhar na baixa densidade algarvia, neste caso o interior de Loulé, um dos mais expressivos municípios algarvios.

A visita de lugares como Alte, Salir, Tôr, Querença, estes ainda num raio de proximidade tempo e geográfica ao litoral e Ameixial, este último já um lugar longínquo e paredes meias com o concelho de Almodôvar no Baixo Alentejo mais profundo, no caminho da velha EN2 para Beja, confirmou mais uma vez a minha perceção do espantoso esforço de infraestruturação básica que os territórios do interior e da baixa densidade algarvia experimentaram nos últimos 30 anos, Loulé seguramente. A perceção visual dos lugares que ontem visitei, com expressões demográficas muito diferenciadas, mas todos em queda, revela-nos territórios nos antípodas do abandono e da morte lenta. Nota-se o investimento público local e aqui e ali, pontualmente, a resposta ainda tímida do investimento privado, renovando algumas habitações, para turismo e talvez residência de fim-de-semana que completam o estado da arte. Em todos estes lugares, subsiste alguma energia e capacidade de iniciativa cultural, que vai aguentando alguma dinâmica de animação sobretudo no verão. Algumas âncoras culturais são visíveis, o polo museológico e centro interpretativo de Alte (em torno da personagem do poeta Cândido Guerreiro) e a Fundação Manuel Viegas Guerreiro (Antropólogo) em Querença ilustram essa realidade. Em todos estes lugares, o turismo de descoberta está presente e pressente-se nos visitantes e caminhantes uma sensação de identificação com o território.

O mais difícil, estancar a não fixação de população e criar alguma dinâmica de criação de emprego, é agora a condição limite para que todo aquele investimento público de qualificação tenha algum retorno.

E já de mochila aviada em direção ao aeroporto, o regresso a um dos meus fetiches algarvios, o pequenino núcleo urbano de S. Lourenço, onde ainda sobressai, altaneiro e único, o Centro Cultural S. Lourenço, hoje fechado por impossibilidade da viúva alemã de alimentar a dinâmica de outros tempos. Este núcleo fetiche é para mim o símbolo das contradições algarvias, pois o núcleo que inclui uma Escola Primária com vida, está no meio de uma completa ilegibilidade da EN 125, com desvios e mais desvios, completamente cortado do núcleo urbano de Almancil.

É preciso recuperar a dinâmica cultural de outros tempos do Centro Cultural de S. Lourenço, pelo menos em honra da memória de gente como Gunter Grass que a ele dedicou muita afeição e apreço.

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