terça-feira, 21 de abril de 2015

COSTA DIZ AO QUE VEM

(Raquel Marín, http://elpais.com)

Acabo de ouvir António Costa num brilhante discurso de enquadramento final à apresentação do relatório do grupo de trabalho especializado que criou com vista à definição de um quadro macroeconómico para a próxima legislatura e à propositura de um conjunto de medidas essenciais de política nesse quadro. Procurando antecipar-me às inevitáveis carpideiras, aos incontornáveis críticos da crítica crítica e aos campeões da politiquice barata, quero apenas sublinhar, por ora, quanto o conteúdo concreto e substantivo daquelas cinco e vulgares palavras de síntese que escolheu (confiança, alternativa, inovação, dignidade e rigor) corresponde à efetiva necessidade de um novo tempo para a economia e a sociedade portuguesas. Haverá certamente muito a debater quanto aos pressupostos do modelo de Mário Centeno e seus colegas de trabalho, haverá certamente muito a clarificar quanto a inúmeros detalhes das medidas sugeridas e haverá certamente muito a testar quanto às escolhas finalíssimas a adotar. Mas o diagnóstico parece dotado de grande solidez e as questões fulcrais andaram lá todas: a afirmação do primado da política sem subestimar a seriedade técnica dos compromissos, o virar da página da austeridade melhorando os resultados, o regresso da qualificação ao centro das políticas públicas, o ataque à precariedade que domina avassaladoramente a nossa sociedade, a sustentabilidade da Segurança Social ou a participação ativa e não submissa no quadro da União Europeia. Quadratura do círculo, dirão os mais pessimistas. Mas haverá futuro sem recusar frontalmente o atual estado de coisas? Haverá futuro sem ousar? Haverá futuro sem novos círculos virtuosos assentes em compromissos de cidadania?

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