domingo, 19 de abril de 2015

PIKETTY NA GULBENKIAN, 27 DE ABRIL 2015, 18.30



Tenho convite e desgraçadamente não sei ainda se posso estar na próxima quinta-feira no Grande Auditório da Gulbenkian, em Lisboa, para assistir à conferência de Thomas Piketty sobre o Capital no século XXI, editado em Portugal pela Temas e Debates em 2014.

Qualquer que seja a posição crítica que assumamos sobre a obra de Piketty, anotei aqui em tempos que o alcance do seu contributo para a compreensão das economias avançadas de hoje foi o de utilizar categorias também apropriáveis pela economia de mainstream que não chega às mesmas conclusões de Piketty. Estamos a falar de conceitos como taxa de crescimento económico, taxa de remuneração do capital ou taxa de juro, elasticidade de substituição entre capital e trabalho, capital/produto, percentagem de lucros e salários no rendimento e tantos outros. Piketty, para além das maturadas reconstituições de dados históricos sobre distribuição do rendimento e da riqueza, neste domínio com fortes contributos de Emmanuel Saez (EUA) e Anthony Atkinson (Reino Unido), ousa prever um agravamento sistemático da distribuição do rendimento através da comparação do comportamento previsível de r (taxa de remuneração do capital) e de g (taxa de crescimento económico). Se o tema da desigualdade vai ser o tema do século XXI, então a obra de PIketty vai ser incontornável, pois o seu argumento aponta para um desvio positivo entre a taxa de remuneração do capital (à qual o capital e a riqueza crescerão) e a taxa de crescimento económico puxada para baixo seja por questões demográficas, seja por eventual atrofiamento do progresso tecnológico.

Dos temas em discussão suscitados pela obra de Piketty, não incluo a pretensa desmontagem dos dados empíricos de base ensaiada pela Financial Times que não encontrou eco na comunidade científica, aquele que me parece mais interessante é o da elasticidade de substituição entre o capital e o trabalho que, de acordo com alguns economistas, não tem o mesmo valor quer consideremos grandezas brutas ou líquidas, ou seja quer integremos ou não a depreciação do capital. A argumentação de Piketty depende fortemente de admitirmos que a elasticidade de substituição entre o trabalho e o capital é superior a 1. Ora, a consideração de grandezas brutas ou líquidas para o capital influencia o valor dessa elasticidade, reduzindo-a para o caso das grandezas líquidas.

É provável que Piketty não entre na Gulbenkian por esses aspetos mais técnicos. De qualquer modo, a Fundação Calouste Gulbenkian continua apostada em manter Portugal (neste caso Lisboa) conectada com os grandes temas do nosso tempo, o que só lhe fica bem.

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