Tenho convite e desgraçadamente não sei ainda se posso
estar na próxima quinta-feira no Grande Auditório da Gulbenkian, em Lisboa,
para assistir à conferência de Thomas Piketty sobre o Capital no século XXI,
editado em Portugal pela Temas e Debates em 2014.
Qualquer que seja a posição crítica que assumamos sobre a
obra de Piketty, anotei aqui em tempos que o alcance do seu contributo para a
compreensão das economias avançadas de hoje foi o de utilizar categorias também
apropriáveis pela economia de mainstream
que não chega às mesmas conclusões de Piketty. Estamos a falar de conceitos
como taxa de crescimento económico, taxa de remuneração do capital ou taxa de
juro, elasticidade de substituição entre capital e trabalho, capital/produto,
percentagem de lucros e salários no rendimento e tantos outros. Piketty, para
além das maturadas reconstituições de dados históricos sobre distribuição do
rendimento e da riqueza, neste domínio com fortes contributos de Emmanuel Saez
(EUA) e Anthony Atkinson (Reino Unido), ousa prever um agravamento sistemático
da distribuição do rendimento através da comparação do comportamento previsível
de r (taxa de remuneração do capital) e de g (taxa de crescimento económico). Se
o tema da desigualdade vai ser o tema do século XXI, então a obra de PIketty vai
ser incontornável, pois o seu argumento aponta para um desvio positivo entre a
taxa de remuneração do capital (à qual o capital e a riqueza crescerão) e a
taxa de crescimento económico puxada para baixo seja por questões demográficas,
seja por eventual atrofiamento do progresso tecnológico.
Dos temas em discussão suscitados pela obra de Piketty, não
incluo a pretensa desmontagem dos dados empíricos de base ensaiada pela
Financial Times que não encontrou eco na comunidade científica, aquele que me
parece mais interessante é o da elasticidade de substituição entre o capital e
o trabalho que, de acordo com alguns economistas, não tem o mesmo valor quer
consideremos grandezas brutas ou líquidas, ou seja quer integremos ou não a
depreciação do capital. A argumentação de Piketty depende fortemente de
admitirmos que a elasticidade de substituição entre o trabalho e o capital é
superior a 1. Ora, a consideração de grandezas brutas ou líquidas para o
capital influencia o valor dessa elasticidade, reduzindo-a para o caso das
grandezas líquidas.
É provável que Piketty não entre na Gulbenkian por esses
aspetos mais técnicos. De qualquer modo, a Fundação Calouste Gulbenkian
continua apostada em manter Portugal (neste caso Lisboa) conectada com os
grandes temas do nosso tempo, o que só lhe fica bem.
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