João Miguel Tavares surge hoje incomodado com o
tratamento que o Observatório sobre Crises e Alternativas do CES – Coimbra (Boaventura
Sousa Santos e Manuel Carvalho da Silva) realiza em torno da taxa de desemprego INE, que os levam a construir algumas taxas de desemprego alternativas e à bombástica taxa de desemprego de 29%.
Com uma literacia de história económica que deixa a desejar
para alguém que ousa tratar estes temas numa página tão lida como a última do Público,
JMT insurge-se com uma comparação de pacotilha das taxas de desemprego que terão
vigorado em plena Grande Depressão de 1929-30, questão que não é tão
despicienda como o jornalista pensa, se atentarmos na diversidade literatura que
já hoje existe sobre a comparação da Grande Depressão e da Grande Recessão e
respetiva recuperação agónica de 2007-2008.
E, como já se esperaria de tal azougada personalidade,
acaba o dito por se interrogar se haverá dinheiro público por detrás do
financiamento do CES e do tal Observatório sobre Crises e Alternativas,
lamentando-se em termos populistas por isso, quando é no terreno da investigação
e do debate das ideias que essa luta deve ser travada.
Convém recordar que, como qualquer outra categoria estatística
e construída em torno de um processo de inquirição regular, há tantas taxas de
desemprego como as que quisermos associar ao tipo de informação recolhida. O
fundamental é assegurar que a meta-informação permite a comparação entre países
com respeito absoluto pela dimensão institucional dos respetivos mercados de
trabalho e que toda a informação complementar necessária para construir taxas
de desemprego alternativas é transparente e acessível ao cidadão e às instituições
vocacionadas para trabalhar e interpretar os cálculos e valores
correspondentes. Aliás, é hoje reconhecido (ver sobretudo o fino trabalho de
recolha que o FED – USA realiza sobre a matéria) que a taxa de desemprego é
insuficiente para compreendermos a evolução dos mercados de trabalho no
contexto pós-crise.
O que os valores da taxa de desemprego (corrente ou em
versões alternativas) e sobretudo os valores do desemprego estrutural e da sua
aproximação estatística que é o desemprego de longa duração nos interpelam é o que
têm as alternativas políticas de esquerda para oferecer no sentido de combater
o flagelo. E isso é particularmente importante para o pensamento das bandas de
Boaventura Sousa Santos e Manuel Carvalho da Silva. Certamente que não passa
pela cabeça de tais personalidades que uma magnitude desta natureza (14% na
versão restrita ou 29% na versão alargada do CES) seja resolúvel apenas com investimento
público. Por isso, seria bom que as alternativas de esquerda discutissem o modo
como pensam envolver o investimento privado nessa batalha. É por estes motivos
e não só que estou na expectativa pelo cenário macroeconómico que a alternativa
do PS tem para oferecer nesta matéria.
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