quinta-feira, 2 de abril de 2015

DESEMPREGOS



João Miguel Tavares surge hoje incomodado com o tratamento que o Observatório sobre Crises e Alternativas do CES – Coimbra (Boaventura Sousa Santos e Manuel Carvalho da Silva) realiza em torno da taxa de desemprego INE, que os levam a construir algumas taxas de desemprego alternativas e à bombástica taxa de desemprego de 29%.
Com uma literacia de história económica que deixa a desejar para alguém que ousa tratar estes temas numa página tão lida como a última do Público, JMT insurge-se com uma comparação de pacotilha das taxas de desemprego que terão vigorado em plena Grande Depressão de 1929-30, questão que não é tão despicienda como o jornalista pensa, se atentarmos na diversidade literatura que já hoje existe sobre a comparação da Grande Depressão e da Grande Recessão e respetiva recuperação agónica de 2007-2008.
E, como já se esperaria de tal azougada personalidade, acaba o dito por se interrogar se haverá dinheiro público por detrás do financiamento do CES e do tal Observatório sobre Crises e Alternativas, lamentando-se em termos populistas por isso, quando é no terreno da investigação e do debate das ideias que essa luta deve ser travada.

Convém recordar que, como qualquer outra categoria estatística e construída em torno de um processo de inquirição regular, há tantas taxas de desemprego como as que quisermos associar ao tipo de informação recolhida. O fundamental é assegurar que a meta-informação permite a comparação entre países com respeito absoluto pela dimensão institucional dos respetivos mercados de trabalho e que toda a informação complementar necessária para construir taxas de desemprego alternativas é transparente e acessível ao cidadão e às instituições vocacionadas para trabalhar e interpretar os cálculos e valores correspondentes. Aliás, é hoje reconhecido (ver sobretudo o fino trabalho de recolha que o FED – USA realiza sobre a matéria) que a taxa de desemprego é insuficiente para compreendermos a evolução dos mercados de trabalho no contexto pós-crise.

O que os valores da taxa de desemprego (corrente ou em versões alternativas) e sobretudo os valores do desemprego estrutural e da sua aproximação estatística que é o desemprego de longa duração nos interpelam é o que têm as alternativas políticas de esquerda para oferecer no sentido de combater o flagelo. E isso é particularmente importante para o pensamento das bandas de Boaventura Sousa Santos e Manuel Carvalho da Silva. Certamente que não passa pela cabeça de tais personalidades que uma magnitude desta natureza (14% na versão restrita ou 29% na versão alargada do CES) seja resolúvel apenas com investimento público. Por isso, seria bom que as alternativas de esquerda discutissem o modo como pensam envolver o investimento privado nessa batalha. É por estes motivos e não só que estou na expectativa pelo cenário macroeconómico que a alternativa do PS tem para oferecer nesta matéria.

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