(Guardian)
Já por mais de uma vez anotei neste blogue a importância
do debate político que se vai fazendo no Reino Unido em plena campanha
eleitoral a propósito da situação macroeconómica daquele país, em tempo de
recuperação, mas ainda longe da performance da economia do Reino Unido estar ao
nível do pré 2007-2008. A importância do debate advém, por um lado, dos
Trabalhistas procurarem afirmar uma alternativa de governação e, por outro, do
facto de estar em discussão o modelo de política macroeconómica assumida pela dupla
Cameron-Osborne. Brevemente, recorda-se que o Reino Unido enfrenta questões
relevantes como o agravamento da desigualdade, o fraco crescimento dos salários
e da produtividade e um sério desmantelamento, ditado sobretudo por questões
ideológicas, dos padrões de Welfare que já caracterizaram em tempos a sociedade
britânica. Para memória de argumentação, convém também recordar que o Reino
Unido tem moeda própria, que a dupla Cameron-Osborne optou por, em tempos de
recuperação anémica, proceder a uma consolidação de
contas públicas com cortes acentuados de despesa pública e que a economia
britânica dispôs neste período de boas condições de financiamento a taxas de
juro baixas. Por conseguinte, o que está em discussão é a questão de saber se,
neste contexto, a abordagem ao após-crise poderia ter sido concretizada com uma
dose bem menos acentuada de cortes na despesa pública. E, o que não é menos
importante, trata-se de saber se a política macroeconómica assumida pela dupla
Cameron-Osborne será ou validada nas urnas, concedendo aos conservadores um
novo período de governação. Matéria por isso bem determinante para o debate em
torno do após-crise.
Ora, nesta matéria, há que assinalar duas peças de
inestimável valor.
A primeira é composta por uma série de posts de autoria
de Simin Wren-Lewis no Mainly Macro, uma coluna honesta que tem
fundamentadamente escalpelizado o pretenso êxito da conservação conservadora. Nove
posts foram produzidos por Wren-Lewis sobre esta matéria e proponho que comecem
pelo último que faz a síntese dos oito restantes. Não resisto a citar a
introdução do post de síntese:
“A história apresentada em grande
parte dos media no Reino Unido é simples e intuitiva. O governo anterior deixou
tudo numa confusão: gastou demais e deixou a economia do Reino Unido no meio de
uma perturbação financeira. A coligação chegou para salvar a situação: combater
a confusão foi duro no princípio, mas agora as coisas estão a melhorar.”
Onde é que os meus ouvidos já ouviram isto? É de facto
impressionante a similaridade deste mito macromedia (expressão de Wren-Lewis
para descrever a representação em torno da qual a ladainha conservadora é toda
ela construída) com o discurso já de campanha eleitoral da maioria PSD-CDS. É
por isso que vale a pena seguir com atenção a desmontagem dos oito mitos
macromedia que Wren-Lewis nos apresenta.
A outra peça é um longo artigo escrito por Krugman para o Guardian, onde o economista americano é implacável para a incompreensível (face
às condições de contexto) onda austeritária e de amplos cortes de despesa pública
que a dupla Cameron-Osborne introduziu na economia britânica, sujeitando-a uma
recuperação muito mais anémica e lenta do que poderia ter sido possível com
outra política macroeconómica.
Veremos como o eleitorado britânico reage a este
confronto de modelos de gestão da política macroeconómica. Para já os conservadores
amarram-se a uma ameaça que fazem pairar sobre os eleitores. Segundo os Tories,
o Labour estaria refém do partido nacionalista escocês. Veremos até que ponto o
Labour resiste aos mitos e à ameaça do caos.
Sem comentários:
Enviar um comentário