quinta-feira, 30 de abril de 2015

A LADAINHA DOS CONSERVADORES UK

(Guardian)


Já por mais de uma vez anotei neste blogue a importância do debate político que se vai fazendo no Reino Unido em plena campanha eleitoral a propósito da situação macroeconómica daquele país, em tempo de recuperação, mas ainda longe da performance da economia do Reino Unido estar ao nível do pré 2007-2008. A importância do debate advém, por um lado, dos Trabalhistas procurarem afirmar uma alternativa de governação e, por outro, do facto de estar em discussão o modelo de política macroeconómica assumida pela dupla Cameron-Osborne. Brevemente, recorda-se que o Reino Unido enfrenta questões relevantes como o agravamento da desigualdade, o fraco crescimento dos salários e da produtividade e um sério desmantelamento, ditado sobretudo por questões ideológicas, dos padrões de Welfare que já caracterizaram em tempos a sociedade britânica. Para memória de argumentação, convém também recordar que o Reino Unido tem moeda própria, que a dupla Cameron-Osborne optou por, em tempos de recuperação anémica, proceder a uma consolidação de contas públicas com cortes acentuados de despesa pública e que a economia britânica dispôs neste período de boas condições de financiamento a taxas de juro baixas. Por conseguinte, o que está em discussão é a questão de saber se, neste contexto, a abordagem ao após-crise poderia ter sido concretizada com uma dose bem menos acentuada de cortes na despesa pública. E, o que não é menos importante, trata-se de saber se a política macroeconómica assumida pela dupla Cameron-Osborne será ou validada nas urnas, concedendo aos conservadores um novo período de governação. Matéria por isso bem determinante para o debate em torno do após-crise.

Ora, nesta matéria, há que assinalar duas peças de inestimável valor.

A primeira é composta por uma série de posts de autoria de Simin Wren-Lewis no Mainly Macro, uma coluna honesta que tem fundamentadamente escalpelizado o pretenso êxito da conservação conservadora. Nove posts foram produzidos por Wren-Lewis sobre esta matéria e proponho que comecem pelo último que faz a síntese dos oito restantes. Não resisto a citar a introdução do post de síntese:

A história apresentada em grande parte dos media no Reino Unido é simples e intuitiva. O governo anterior deixou tudo numa confusão: gastou demais e deixou a economia do Reino Unido no meio de uma perturbação financeira. A coligação chegou para salvar a situação: combater a confusão foi duro no princípio, mas agora as coisas estão a melhorar.”

Onde é que os meus ouvidos já ouviram isto? É de facto impressionante a similaridade deste mito macromedia (expressão de Wren-Lewis para descrever a representação em torno da qual a ladainha conservadora é toda ela construída) com o discurso já de campanha eleitoral da maioria PSD-CDS. É por isso que vale a pena seguir com atenção a desmontagem dos oito mitos macromedia que Wren-Lewis nos apresenta.

A outra peça é um longo artigo escrito por Krugman para o Guardian, onde o economista americano é implacável para a incompreensível (face às condições de contexto) onda austeritária e de amplos cortes de despesa pública que a dupla Cameron-Osborne introduziu na economia britânica, sujeitando-a uma recuperação muito mais anémica e lenta do que poderia ter sido possível com outra política macroeconómica.

Veremos como o eleitorado britânico reage a este confronto de modelos de gestão da política macroeconómica. Para já os conservadores amarram-se a uma ameaça que fazem pairar sobre os eleitores. Segundo os Tories, o Labour estaria refém do partido nacionalista escocês. Veremos até que ponto o Labour resiste aos mitos e à ameaça do caos.

Sem comentários:

Enviar um comentário