(Comportamento do Investimento privado face às perspetivas económicas - World Economic Outlook 2015, FMI)
A explicação do comportamento do investimento privado nas
economias em recuperação agónica e bem mais lenta do que o esperado constitui o
principal fator de controvérsia entre quem se propõe potenciar o relançamento
das economias europeias.
A posição dominante entre os que conduziram a abordagem à
crise das dívidas soberanas e ainda prevalecente nas instâncias comunitárias é
que o investimento privado responde essencialmente à confiança imposta pela
disciplina orçamental e ao embaratecimento do capital (descida de taxa de juro)
e da mão-de-obra (desvalorização nominal e real dos salários, diminuição dos
custos para a segurança social a cargo das empresas, vulgo TSU, e redução
generalizada dos custos de contexto). Alinhado como sempre com as posições alemãs,
a entourage de Passos Coelho resolveu desenterrar de novo o tema da TSU e
continua preocupado com a descida necessária do custo do trabalho. SCHAÜBLE tem insistido sobretudo na confiança que a
disciplina orçamental provoca nos mercados, sem essa recuperação da confiança
que estimulará o investimento privado. Estes argumentos não resistem a uma
simples conversa com um empresário de média projeção, que rapidamente nos dirá
que não é o custo do trabalho que provoca apreensão, mas antes o da energia e
das telecomunicações, por exemplo.
Este universo de posições encontra-se em fase de negação
de evidências. A desvalorização interna que heterogeneamente foi possível impor
às economias em situação de resgate e a descida pronunciada da taxa de juro,
nem a disciplina orçamental medida pela evolução dos saldos orçamentais primários
em percentagem do produto máximo potencial das economias foram suficientes para
estimular o investimento privado. O comportamento dos yields das dívidas
soberanas reflete confiança e nem por isso a retoma do investimento é relevante.
O World Economic Outlook de 2015 do
FMI veio provocar um rombo adicional neste universo de negacionistas. O capítulo
dedicado ao investimento empresarial privado mostra que é a estagnação global
das economias que provoca o adormecimento do investimento privado e voltamos às
atmosferas keynesianas do investimento. As empresas não investem não porque não
confiam na disciplina orçamental dos ministros das finanças. Não investem
porque não encontram otimismo nas previsões de mercado para os seus
investimentos. E estamos no coração de mecanismos cumulativos, ou seja, nos
mecanismos “pescadinha de rabo na boca” em que a macroeconomia é pródiga. Não
se investe porque a economia está estagnada e não se investindo todo o esforço
de redinamização do consumo esgota-se a muito curto prazo. Daí que não chegue
esperar pela retoma normal do ciclo económico. É necessário interromper os tais
mecanismos cumulativos e não há dúvida de que o investimento público, sobretudo
aquele que gera retorno suficiente para pagar o endividamento a curto prazo,
constitui a alternativa mais factível para se quebrar o tal mecanismo
cumulativo. O FMI não parece ser nenhuma instituição de infiltrados radicais.
Os resultados da pesquisa por si patrocinada constituem um amargo de boca para
os negacionistas e nem com Compensan lá vão.
Krugman joga com a situação para mostrar que o rei vai nu
e a outros leitores atentos ao World Economic Outlook 2015 também não escapou o
estatelanço conjuntural do tão pouco avisado primeiro-ministro Passos.
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