domingo, 19 de abril de 2015

A RETOMA DO INVESTIMENTO: O FMI CONTRA PASSOS E SCHAÜBLE

(Comportamento do Investimento privado face às perspetivas económicas - World Economic Outlook 2015, FMI)


A explicação do comportamento do investimento privado nas economias em recuperação agónica e bem mais lenta do que o esperado constitui o principal fator de controvérsia entre quem se propõe potenciar o relançamento das economias europeias.

A posição dominante entre os que conduziram a abordagem à crise das dívidas soberanas e ainda prevalecente nas instâncias comunitárias é que o investimento privado responde essencialmente à confiança imposta pela disciplina orçamental e ao embaratecimento do capital (descida de taxa de juro) e da mão-de-obra (desvalorização nominal e real dos salários, diminuição dos custos para a segurança social a cargo das empresas, vulgo TSU, e redução generalizada dos custos de contexto). Alinhado como sempre com as posições alemãs, a entourage de Passos Coelho resolveu desenterrar de novo o tema da TSU e continua preocupado com a descida necessária do custo do trabalho. SCHAÜBLE tem insistido sobretudo na confiança que a disciplina orçamental provoca nos mercados, sem essa recuperação da confiança que estimulará o investimento privado. Estes argumentos não resistem a uma simples conversa com um empresário de média projeção, que rapidamente nos dirá que não é o custo do trabalho que provoca apreensão, mas antes o da energia e das telecomunicações, por exemplo.

Este universo de posições encontra-se em fase de negação de evidências. A desvalorização interna que heterogeneamente foi possível impor às economias em situação de resgate e a descida pronunciada da taxa de juro, nem a disciplina orçamental medida pela evolução dos saldos orçamentais primários em percentagem do produto máximo potencial das economias foram suficientes para estimular o investimento privado. O comportamento dos yields das dívidas soberanas reflete confiança e nem por isso a retoma do investimento é relevante.

O World Economic Outlook de 2015 do FMI veio provocar um rombo adicional neste universo de negacionistas. O capítulo dedicado ao investimento empresarial privado mostra que é a estagnação global das economias que provoca o adormecimento do investimento privado e voltamos às atmosferas keynesianas do investimento. As empresas não investem não porque não confiam na disciplina orçamental dos ministros das finanças. Não investem porque não encontram otimismo nas previsões de mercado para os seus investimentos. E estamos no coração de mecanismos cumulativos, ou seja, nos mecanismos “pescadinha de rabo na boca” em que a macroeconomia é pródiga. Não se investe porque a economia está estagnada e não se investindo todo o esforço de redinamização do consumo esgota-se a muito curto prazo. Daí que não chegue esperar pela retoma normal do ciclo económico. É necessário interromper os tais mecanismos cumulativos e não há dúvida de que o investimento público, sobretudo aquele que gera retorno suficiente para pagar o endividamento a curto prazo, constitui a alternativa mais factível para se quebrar o tal mecanismo cumulativo. O FMI não parece ser nenhuma instituição de infiltrados radicais. Os resultados da pesquisa por si patrocinada constituem um amargo de boca para os negacionistas e nem com Compensan lá vão.

Krugman joga com a situação para mostrar que o rei vai nu e a outros leitores atentos ao World Economic Outlook 2015 também não escapou o estatelanço conjuntural do tão pouco avisado primeiro-ministro Passos.

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