quinta-feira, 8 de março de 2012

REVENDO E ATUALIZANDO

Está iminente – há um prazo que se esgota às 21 horas de hoje – o desenlace da maior operação de reestruturação de dívida de sempre: como é sabido, a mesma pode vir a saldar-se pela supressão de metade dos créditos de dívida grega detidos por investidores privados (107 mil milhões de euros).

Aguarda-se a decisão de bancos, seguradoras, fundos de pensões e “hedge funds” – entidades detentoras de 206 mil milhões de euros de dívida grega – quanto a uma aceitação (ou não) de participarem na operação em causa. Sendo que, em caso afirmativo, irão trocar os seus antigos títulos por novos títulos a emitir (com maturações mais longas e taxas de juro mais baixas), assim contribuindo para eliminar 53,5% da dívida e assumindo uma perda de 73%.

Recorde-se que, nos termos negociados em Atenas, a taxa de participação dos credores na operação terá de atingir pelo menos 75% para que não seja dada por interrompida, situação que faria com que voltasse a agitar-se o fantasma da falência desordenada da Grécia (cujo custo foi há dias estimado pelo IIF, a organização financeira internacional que negociou com o governo grego em nome dos credores privados, no avassalador montante de 1 bilião de euros, ao qual se adicionariam ainda um mais que provável efeito de contágio a outras economias e necessidades de recapitalizações bancárias avaliadas em mais de 160 mil milhões de euros). Um cenário de terror a que a maioria dos especialistas não atribui, felizmente, a maior das probabilidades.

Mas “o segredo é a alma do negócio” e o “suspense” está instalado. Sobretudo porque os observadores próximos preveem ser igualmente pouco provável a ocorrência do melhor cenário, isto é, a verificação de uma situação em que aquela aceitação pelos privados atingisse os 90%, desencadeando uma troca automática sob uma base “voluntária” e assim não inviabilizando o estreito caminho definido como preferencial pelas autoridades gregas e pelas instâncias europeias (segundo resgate).

A ser assim, o que poderá então suceder? Se o resultado se ficar por uma aceitação superior a 75% mas inferior a 90%, o governo grego estará obrigado a consultar a “Troika”, havendo então duas hipóteses: ou uma conformação em relação ao valor alcançado (embora insuficiente, porque menor do que os 90%) ou uma decisão de obrigar todos os credores a participarem na operação (utilizando as “cláusulas de ação coletiva” que o parlamento grego recentemente integrou retroativamente nas obrigações de direito grego já emitidas). No primeiro caso, seria “virar o disco e tocar o mesmo”: reforço da ajuda financeira pela tripla BCE/CE/FMI e/ou lançamento de novas medidas de austeridade. No segundo caso, estaríamos perigosamente a aproximar-nos de um “credit event” (recordo o meu post de 23 de Fevereiro) e da consequente incerteza/instabilidade associada a um despoletar de pagamentos no opaco mercado dos seguros de incumprimento (“credit default swaps”). A procissão ainda vai no adro, pois!

Entretanto, o Vice-Presidente da Comissão Europeia e Comissário para os Assuntos Económicos e Monetários e o Euro (Olli Rehn, acima ilustrado por Manos Symeonakis em
http://www.ekathimerini.com), fez ontem a declaração otimista de que “a troca de dívida deverá desenrolar-se sem incidentes, porque a operação continua a ser financeiramente interessante para o setor privado”. Só que, não querendo de modo nenhum agoirar, este cinzento e muito típico funcionário – que é, aliás, o mesmo que respondeu a Cavaco que “já temos mostrado bastante imaginação, e especialmente responsabilidade, no que respeita a como ultrapassar as dificuldades económicas de Portugal” – tem uma característica que tende a fazer temer um aumento da gravidade do problema: fala muito (em péssimo inglês, diga-se) mas acerta muito pouco…

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