O candidato socialista às eleições presidenciais francesas, François Hollande (acima invocado como alvo da dupla “Merkozy” num recente cartoon de Peter Schrank em “The Economist”, http://www.economist.com), concedeu há dias uma elucidativa entrevista ao magazine alemão “Der Spiegel”.
Hollande enuncia três “driving forces” da sua ação, em caso de vir a ser o efetivo vencedor de um processo que termina em 6 de Maio e em que as sondagens existentes o favorecem. A primeira é a de “uma reorientação da Europa em direção a mais crescimento”, assim determinando uma renegociação de um pacto orçamental que entende não ter isso em conta; daí a sua afirmação perentória de que a primeira viagem que fará ao estrangeiro será a Berlim, “para ver a chanceler Angela Merkel”.
Reforça esta sua posição enfatizando que, por razões indiscutivelmente associadas ao seu défice “alarmantemente elevado” e à degradação do seu rating por uma agência, “a França não tornou suficientemente claro quão importante é introduzir “euro-bonds” como uma ferramenta contra a especulação” nem como “a necessária disciplina orçamental precisa de ser acompanhada por crescimento”.
A segunda tem a ver com a sua determinação de agir diferentemente no quadro europeu, privilegiando a dimensão comunitária (“não podemos criar a impressão de que há um duopólio na Europa que todos os outros devem seguir”, pelo que não haverá substituição do tandem “Merkozy” por um outro tipo “Merlande”) e manifestando, designadamente, a sua compreensão quanto ao carácter não justificável de uma submissão dos parlamentos nacionais, em sede de orçamento, ao Tribunal de Justiça Europeu. Ainda que não questionando, em contrapartida, as chamadas “sanções automáticas” aos países violadores.
A terceira explicita a sua perspetiva quanto à referida introdução de “obrigações europeias”, nomeadamente ao sublinhar: “Eu não quero ‘euro-bonds’ para servirem para mutualizar a dívida integral dos países da Zona Euro. Isso só pode funcionar no longo prazo. Eu quero ‘euro-bonds’ para serem usados para financiar investimentos dirigidos em projetos de crescimento orientados para o futuro. Chamemos-lhes ‘project-bonds’ em vez de ‘euro-bonds’.” Mas a forma concreta como equaciona avanços nesta matéria não é muito convincente nem reconfortante: “há alguns fundos estruturais na UE que ainda têm dinheiro por usar” e “também temos o Banco Europeu de Investimentos”, é tudo quanto diz.
De todo o modo, e apesar das limitações que a sua abordagem política não deixa de patentear – saliente-se, em abono da verdade, quanto esta se encontra tolhida pelo enorme colete-de-forças que a envolve, à direita e à esquerda –, uma eventual vitória de Hollande traria certamente algo de novo à França e, por essa via, à Europa. Mas não fosse porque as suas promessas eleitorais já foram a um ponto de concretização suficientemente significativo – como decorre de muito do que acima se evidencia ou, no plano interno, de aspetos como a recusa de um desempenho tipo “Hollandreou” ou a proposta de um imposto de 75% sobre os rendimentos anuais superiores a 1 milhão de euros – para que não obriguem à produção de algum movimento (“shakes”). Por muito moderado que, no final do dia, os ditames da “realpolitik” o acabassem por vir a impor…
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