O “Quadratura do Círculo” prossegue a sua senda de qualidade. Mesmo quando, como foi o entendimento expresso ontem por António Lobo Xavier, faz “cedências à chamada pequena política”.
José Pacheco Pereira, “em grande forma” como aqui disse o António Figueiredo na semana passada, explicou inteligentemente a grande pecha da estratégia política governamental e a sua coerência intrínseca ao afirmar: “O problema de fundo é muito simples: é saber se no entendimento do Governo e de quem manda no Governo – o primeiro-ministro e o ministro das Finanças – há ou não há espaço para haver uma política de desenvolvimento. E a resposta que tem sido dada até agora é que não.” Explicitando ainda: “A solução atribuindo ao ministro das Finanças o controlo último deste processo é coerente. É coerente com uma certa conceção das prioridades, pelo menos para os próximos anos. E essa conceção das prioridades é muito simples: não adianta lutas contra o desemprego, não adianta fazer grandes planos de desenvolvimento económico, enquanto não houver o controlo do défice tudo isso é irrelevante ou é relativamente pouco importante.”
António Lobo Xavier marcou pontos, na minha ótica, ao distanciar-se do modelo irrealista de composição do Governo e da ortodoxia mais básica que lhe subjaz: “Eu não acho feliz o modelo dos superministérios, acho que foi uma cedência um bocadinho ao populismo, aliás cedências que houve em todos os países – quer dizer, há coisas, no meio da crise, que me fazem impressão, desde os primeiros-ministros que não ganham dinheiro ou que recusam vencimentos até à ideia de que os governos devem ser minimalistas por uma espécie de milagre, como se o Estado não tivesse de ser gerido. Eu não gosto muito destes superministérios, acho que isto sem apoios, sem alguns auxílios, sem dobras como se diz no futebol… acho difícil de gerir, eu com isso estou de acordo.”
Mas o vencedor da noite foi, desta vez, António Costa (caricaturado por Fernão Campos em http://ositiodosdesenhos.blogspot.com), aquele que brilhou a mais altura. Sobretudo quando comentou o papel do CDS na coligação governamental, referindo com graça:
“O PSD foi glutão na formação do Governo. Foi glutão. E uma das razões, aliás, porque inventaram os superministérios foi para impedir que o CDS desempenhasse algumas funções importantes, designadamente no setor económico; a melhor forma de evitar que aqui o António Lobo Xavier ou o António Pires de Lima ou personalidades destas fossem ministros da Economia foi, designadamente, fazer aquela macro coisa que conduziu aos bons resultados que estamos a ver, mas que foi uma das formas de travar a existência do CDS. Portanto, com exceção da lavoura, não é?, foi a única área de intervenção económica com que o CDS teve direito a aproximar-se foi a lavoura; quanto ao resto da economia, foram barricados.
Em segundo lugar, foi dada a oportunidade também de ficarem com a área social, desvalorizada neste Governo como um mero assistencialismo. Tendo-lhe mesmo retirado a dimensão trabalho. O que significa que o ministro Pedro Mota Soares deixou de ser destinatário de todos os protestos, de todas as manifestações, de todas as greves, que ficaram glutosamente nas mãos destinadas ao PSD e ficou com aquela parte, apesar de tudo simpática, que é ter uns cheques para distribuir pelas IPSS’s, umas festas para distribuir pelos idosos, um sorriso para pegar numas criancinhas ao colo [apartes de António Lobo Xavier – ‘mesmo aí com o Marco António…’ – e José Pacheco Pereira – ‘depois eu é que sou mau…’]. Portanto, o PSD só se pode queixar de ter sido glutão – quer dizer, quis tudo. E portanto como estamos naquela fase em que, quanto mais se tem, mais chatices se tem, é evidente que isto ficou muito desequilibrado. O CDS tem gerido isto bem, porque de facto o grande político que existe neste Governo é indiscutivelmente o Dr. Paulo Portas. Que é muito sábio: nos primeiros seis meses ninguém o viu, circulou pelo mundo e tal; depois, quando começou a ser muito criticado por estar ausente, faz agora umas pequenas passagens, ao domingo de manhã ou ao sábado ao fim da tarde, por alguma concelhia do CDS, diz uma coisa genérica, manifesta sempre solidariedade, naturalmente, com o Governo e lá rapidamente desaparece. Mas eu acho que o PSD não se pode queixar de muito mais a não ser de si próprio e da forma bastante arrogante como tem tratado o CDS, isso é evidente.”
Apesar de todos os “esses e erres” que se lhe possam mais ou menos justamente apontar, este programa representa um oásis no panorama do debate político em Portugal e presta um serviço insubstituível aos cidadãos nacionais que insistem em querer pensar!
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