segunda-feira, 12 de março de 2012

APLAUSO

Na semana finda os “tanques boches” voltaram à ofensiva na frente europeia. Ele foi o presidente do Bundesbank, Jens Weidmann, a criticar por carta publicada em jornais os “perigos criados pelas políticas do BCE” e em particular uma alegadamente excessiva assunção de riscos para o balanço do BCE decorrente das suas recentes operações de disponibilização de liquidez ao sistema financeiro. Ele foi um dissidente do BCE de Trichet, Jürgen Stark, a vir juntar a sua voz nesse mesmo sentido defendendo que o volume dos ativos em poder do BCE era enorme e qualitativamente “shocking”. Ele foi Angela Merkel a anunciar que o último leilão lançado seria mesmo o último, assim secundarizando a independência do BCE de que habitualmente se proclama ciosa. Eles foram vários outros, desde líderes de opinião local a “think tanks” (como o IFO), a apelar sob várias formas por um enxugamento da liquidez e por um regresso à ortodoxia monetária.

Apesar de um ataque em tão diversificada escala, Mario Draghi (acima caricaturado por Cummings em
http://marketswan.blogspot.com) não se intimidou e aproveitou a sua conferência de imprensa subsequente à reunião do Conselho do BCE que manteve inalterável a taxa de juro diretora da Zona Euro para retorquir em relação a todos e a cada um daqueles alvos. Eis em oito tópicos os principais tiros que elegante e certeiramente disparou:
1. "Estamos todos no mesmo barco e eu penso que não há nada a ganhar em brigar ou discutir publicamente for a do conselho de governadores” (aviso ao Bundesbank).
2. "Ninguém está isolado no Conselho, especialmente o Bundesbank” (o representante do banco central da Alemanha não objetou às operações de refinanciamento de longo prazo).
3. “Ambas as operações, eu diria, são um sucesso inquestionável” (uma vez que os leilões extraordinários de liquidez lograram devolver a confiança no euro e permitir o regresso dos chamados investidores institucionais ao mercado).
4. "Não há um guardião único da estabilidade" na Zona Euro.
5. "É erróneo dizer que o BCE acumula mais risco no seu balanço do que a Fed ou o BoE" (acrescentando que gostaria de perguntar a Stark “what he means”).
6. "Não se trata da Alemanha contra todos, não é assim. Trata-se de acordar a melhor solução e de a levar a cabo de forma conjunta. Trabalhar de forma isolada no Conselho não vai comigo."
7. Confirmação de que 460 dos 800 bancos que acudiram ao segundo leilão eram alemães (embora apenas solicitando 10% do total de fundos mas referindo, numa possível indireta ao Deutsche Bank que levantara questões de idoneidade, que alguns bancos podem ter optado por acudir através de filiais para evitar ser identificados).
8. "A bola agora está no campo dos Governos e dos bancos" e o crédito "está mais próximo” das empresas.

A pouco e pouco, e sem quaisquer alardes, Mario Draghi está assim a tornar-se "a única coisa positiva que sucedeu na Europa” nestes últimos meses de crise e paranoia. O que significa que, afinal, a sua costela romana/latina tende a prevalecer sobre quaisquer fidelidades a ideologias ortodoxas ou a interesses “goldmansachsianos
”…

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