Começo por um breve reavivar de memória: nos anos 80 do século passado, o crescimento do PIB mundial e o do conjunto das chamadas “economias emergentes” foi de ordem similar; nos anos 90, o crescimento dessas economias foi algo superior ao dos países industrializados, mas ficou quase exclusivamente a dever-se às economias asiáticas; a primeira década do século XXI conheceu um espetacular crescimento daquelas economias (com destaque para China e Índia) e foi a primeira em que os países industrializados não só cresceram claramente menos do que as economias emergentes como também cresceram menos do que todos e cada um dos grandes grupos por que habitualmente se organiza a distribuição dessas economias (Ásia, América Latina, Médio Oriente e Norte de África, África subsahariana, Europa Central e Oriental, ex-URSS).
Desde o surgimento da designação NICs (“new industrialized countries”) ou NPI (“novos países industrializados”) com que nos passados 70’s se procurou dar conta do facto novo de uma bem-sucedida industrialização na “periferia”, poucos acrónimos funcionaram tão positivamente no sentido de evidenciar uma realidade em irrupção e afirmação na cena internacional como aquele que Jim O’Neill e a “Goldman Sachs” inventaram há dez anos para apelidar o conjunto das 4 maiores economias emergentes: BRICs (as iniciais dos nomes dos países considerados, a saber, Brasil, Rússia, Índia e China). Uma avaliação recente (Jean Fouré, Agnès Bénassy-Quéré & Lionel Fontagné – “The World Economy in 2050: a tentative picture”, CEPII Working Paper nº 27, December 2010, http://www.cepii.fr/anglaisgraph/workpap/summaries/2010/wp2010 27.htm) indicava que tal conjunto já representava 13% da produção mundial (contra 30% da UE, 27% dos EUA e 10% do Japão), mas previa que a economia mundial chegasse a uma situação de equilíbrio tripartido (“three way split”) em 2025 (24% para os três blocos) e evoluísse para um domínio dos BRICs por meados do século (37%, sendo embora 25% da China, contra 19% dos EUA e 16% da EU e ocupando aquelas 4 economias, respetivamente, o 5º, 6º, 3º e 1º lugares no ranking económico do planeta).
Têm-se vindo a observar tentativas várias de extensão dessa lógica fundadora da ideia de BRICs para captar outras visíveis ou potenciais dinâmicas relevantes: as hipóteses BRICM (com México) e BRICI (com Indonésia) foram suplantadas pela institucionalização da designação BRICS (com África do Sul) e falou-se em VISTA (Vietname, Indonésia, África do Sul, Turquia e Argentina), em MINT (México, Indonésia e Turquia) ou em CIVETS (Colômbia, Indonésia, Vietname, Egito, Turquia e África do Sul). A própria Goldman também voltou à liça, lançando em 2005 a sugestão de N-11 (“next eleven countries”), incluindo Coreia do Sul, México, Turquia, Indonésia, Paquistão, Bangladesh, Filipinas, Irão, Vietname, Egito e Nigéria. Por último, o BBVA veio propor a substituição dos datados BRICs pelos EAGLE (“emerging and growth-leading economies”), integrando os 4 ex-BRIC mais Coreia, Indonésia, México, Turquia, Egito e Taiwan e deixando outras fortes promessas já “no ninho” (Tailândia, Nigéria, Polónia, Colômbia, África do Sul, Malásia, Vietname, Paquistão, Bangladesh, Argentina, Peru e Filipinas).
Uma curiosidade, a terminar, que serve também de justificação para o título deste post: a interseção de todas as listas aponta para dois países, a Indonésia e a Turquia, como únicos comuns. O que quer que se possa entender que isso valha, e apesar de se ir tornando evidente que a categoria de Estado-nação tende a ser cada vez menos central para a apreensão dos grandes movimentos da economia mundial dos nossos dias, aí está talvez uma indicação que não deverá deixar de merecer a devida atenção...
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