Se a memória não me atraiçoa, terá sido em 2008 que
germinou a ideia de constituição de um consórcio de investigação integrando
numa mesma instituição três dos mais relevantes centros de investigação da
Universidade do Porto: O Instituto de Biologia e Medicina Molecular (IBMC), o Instituto
de Engenharia Biomédica (INEB) e o Instituto de Patologia Molecular e
Imunologia da Universidade do Porto (IPATIMUP). Na página da Universidade do
Porto, o projeto era apresentado como podendo concentrar uma das massas críticas
mais significativas (cerca de 700 colaboradores) na área das ciências da vida e
da saúde.
Mas o projeto tinha duas outras dimensões muito
relevantes.
Em primeiro lugar, ele reunia três das mais marcantes
personalidades da ciência em Portugal que decidiram afirmar a sua marca de
excelência no Norte, mais propriamente no Porto, em clara independência à corte
de Lisboa, não deixando de a frequentar sempre que necessário para a defesa das
suas instituições. Alexandre Quintanilha, Mário Barbosa e Manuel Sobrinho Simões,
com perfis diferentes, formas diversas de estar e de fazer passar a sua cultura
científica e cívica, estiveram para além das suas personalidades, mostrando ao universo
da ciência nacional e regional, sempre propenso aos reinos da pequena dimensão
ou aos cultos de personalidade, uma linha de rumo. E a importância dessa decisão
era tanto mais relevante quanto essas instituições têm hoje uma composição que
lhes permitirá sem sobressalto assegurar uma transição geracional tranquila.
Depois, o projeto evidenciava um ativo específico do Porto
e da ciência regional que se podia transformar no mais importante centro de
investigação na área da ciência, superando não só o Instituto Gulbenkian de Ciência,
mas também o já então anunciado e já concretizado centro da Fundação
Champalimaud. Esta evidência terá perturbado alguns funcionários da corte,
pouco habituados a ver massas críticas significativas fora do seu raio
protetor/dominador, para mais com elevado poder de networking internacional, cosmopolitas e com amplo reconhecimento
mundial inter-pares. A posterior constituição do Cluster da Saúde (Health Cluster Portugal) também com
epicentro no Norte terá reforçado essa desconfiança lisboeta, um pouco atónita
com a desconstrução inexorável do mito de que a ciência era Lisboa.
Em Maio de 2011, foi assinado um
protocolo de cofinanciamento no âmbito do Programa Operacional Regional Norte
do QREN para a concretização do I3S, entre a Comissão de Coordenação e
Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N) e a Universidade do Porto, inserindo
o projeto na dinâmica normal da programação dos Fundos Estruturais e
assegurando-lhe, tudo levaria a crer, um impulso irreversível. Desde o
período de lançamento da ideia e do projeto até hoje, passando pelo contrato de
cofinanciamento comunitário, as três instituições prosseguiram a sua vida de
excelência e a sua febril atividade de investigação e de ligação ao meio, mais empresarial
no caso do INEB e mais de articulação com o serviço público nas outras duas. Mas
as dificuldades de financiamento da Universidade do Porto para assumir a
contrapartida nacional de um ambicioso programa de investimentos na área da
investigação e desenvolvimento e empreendedorismo de base tecnológica têm
colocado entraves à concretização do projeto das instalações do I3S.
Seria curial perguntar se este projeto
terá beneficiado da flexibilização comunitária de passagem da taxa de
comparticipação de 70 para 85%. É uma boa pergunta para a qual não tive informação
segura.
Mas a questão é mais delicada e suscita
uma outra. Estará o projeto sujeito ao risco da descativação de verbas de que
falei aqui há dias com um post sobre
as interrogações do QREN? Se o está, não dará para acreditar. Haverá, por certo,
algum funcionário, solícito, da corte imediatamente a avançar com o argumento
de que era mais uma infraestrutura e por isso dispensável, até porque as 3 instituições
de raiz estão instaladas. Já estamos habituados a funcionários desta natureza e
a argumentos deste teor. Argumentos que regra geral não se aplicam a instituições
similares quando situadas na área da proteção da corte. Uma descativação
conduzida por simples critérios administrativos pode inviabilizar o projeto.
Mas há uma coisa que me intriga, mais
rigorosamente, me perturba. Se o risco existe de facto, as hostes no Porto estão
demasiado calmas e não me parece que sejam especialistas e adestradas nas influências
de corredor, inacessíveis à influência dos media.
Santa ingenuidade ou falta de convicção no próprio projeto? Inabilidade da parte
da Universidade do Porto, cuja dimensão começa a exigir uma gestão mais agressiva
e profissionalizada? Onde é que param as forças políticas regionais?
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