sábado, 24 de março de 2012

EM QUE FICAMOS?

Segue uma pequena resenha dos factos mais públicos e notórios relacionados com a questão da revisão/atualização do programa do PSD.

A 7 de Abril de 2010, o líder parlamentar do PSD que cessava funções (José Pedro Aguiar Branco, acima caricaturado por Henrique Monteiro em http://henricartoon.blogs.sapo.pt) é convidado por Pedro Passos Coelho (PPC) e aceita presidir a uma comissão encarregada de estudar os termos de uma revisão do programa do partido.

O novel Presidente da Comissão de Revisão do Programa do PSD denomina-a pomposamente GENEPSD, dota-a de um modelo de funcionamento (ver acima as “cinco plataformas” estruturantes), constitui um Conselho Consultivo e uma Comissão Executiva e escreve no respetivo “site”:
“Um projeto envolvente e abrangente.
Queremos promover o debate e a discussão, fazendo uso dos meios e das soluções que esta nova era da conectividade coloca à nossa disposição.
Queremos recolher o maior número de contributos possível. Nas mais variadas áreas. Das mais variadas pessoas e organizações.
Nos próximos meses iremos, por isso, percorrer o país, ouvindo as preocupações, as ideias e as sugestões dos portugueses.
No PSD acreditamos que a política é feita para as pessoas.
No PSD acreditamos que com a participação informada das pessoas o processo de revisão do Programa do Partido sairá fortalecido.”

Há pouco mais de um ano, JPAB entrega a PPC as conclusões do seu trabalho, que se iniciara a 28 de junho de 2010, afirmando
então: “Queremos reafirmar aquilo que é o ADN estrutural do PSD desde o início, aquilo que é a pessoa, com o intuito de que o programa possa reforçar essa dimensão do personalismo, da pessoa no centro da atividade política e como destinatário último das políticas”.

Após um interregno eleitoral e governativo, a 31 de Janeiro de 2012 o autodesignado “Presidente” JPAB “tem o prazer de o convidar para o lançamento do livro” ("Contributos para uma Social-Democracia Portuguesa") onde surgem reunidos os principais elementos obtidos no quadro daquele trabalho. Foi no Hotel Sana (Lisboa), com a presença de PPC e numa cerimónia dita já inserida num contexto de preparação do Congresso do PSD de 23, 24 e 25 de Março.

A 25 de fevereiro de 2012, o PSD reúne o seu Conselho Nacional e PPC apresenta a sua proposta de revisão do programa do partido, declarando: "o PSD não vai mudar de programa no sentido daquilo que são os seus valores, os seus princípios, o que vai é atualizar o seu programa de modo a, em primeiro lugar, torná-lo um documento mais intemporal, que seja menos parecido com um programa eleitoral ou um programa de Governo". E ainda: “E eu posso garantir que esses contributos [os contributos reunidos por Aguiar-Branco] são o coração da proposta que hoje trouxe ao Conselho Nacional”.

A 22 de Março de 2012, e como todos os pretextos são bons para sermos falados (comparem-se estas afirmações com as de há um ano…), ouço JPAB na TSF: “Aquilo que foi sempre a linha de orientação de Sá Carneiro na sua intervenção política e na doutrina da ‘social-democracia à portuguesa’ foi sempre centrado na matriz ‘a pessoa humana’. Dizia-se até que nós eramos o partido dos ‘self-made men’, das pessoas que se conseguem impor por elas próprias desde que se lhes dê as condições para o efeito. Ora, hoje, o que o PSD está a fazer é precisamente ir ao encontro do que permita às pessoas readquirirem a sua soberania, a sua capacidade de afirmação, a sua possibilidade de realização de construir um futuro melhor.”

A 23 de março de 2012, o PSD reúne o seu 34º Congresso e a comunicação social (abaixo citado o “Público”) noticia que, na abertura do debate sobre o programa do partido, “Aguiar-Branco admitiu que as suas ideias foram quase totalmente substituídas por outras”, resultando assim que “a maioria dos seus contributos foi rejeitada por Passos” e que “o líder do partido acabou por fazer um documento totalmente novo para o congresso”. Citando o próprio: “Não, não estou magoado”. Ou: “Tínhamos outras palavras? Tínhamos. Este é um texto diferente? É. E depois? O que nos distingue uns dos outros é a forma como vemos essas diferenças, respeitando-nos”. Rematando, com proverbial modéstia: “Se o Pedro concordasse comigo em tudo, teria votado em mim nas últimas diretas”. Para quem obteve 3,42% dos votos na sua candidatura a líder…

Sem comentários:

Enviar um comentário