A publicação pelo EUROSTAT dos dados relativos ao mercado de trabalho na União Europeia e na zona EURO permite-nos perceber a verdadeira
dimensão da apatia europeia nesta matéria.
O gráfico que abre este post é bem a ilustração duma
incapacidade europeia, que é o comportamento do emprego. É bem evidente a
contração imposta pela crise recessiva que atravessa os dois espaços e
sobretudo a inexistência de uma trajetória sustentada de recuperação dos níveis
de emprego. A ligeira recuperação observada a partir do 1º trimestre de 2010 não
foi sustentada e a partir do 2º trimestre de 2011 temos mesmo um recuo do
emprego, mais saliente na zona euro.
Portugal apresentou em 2011 sempre taxas de variação trimestrais
homólogas negativas, com principal relevo para a taxa do 4º trimestre, a mais
negativa de todo o universo com exceção da Grécia. A narrativa do emprego que
foi explicitada em torno do memorando de resgate financeiro evolui assim
claramente para uma contradição face aos termos com que foi inicialmente
apresentada. Para além dos países mais diretamente atingidos pela crise das dívidas
soberanas, só a Bulgária e a Eslovénia apresentaram no 4º trimestre crescimento
homólogo negativo do emprego. Trata-se a meu ver do melhor indicador sobre a
apatia europeia e falência de todo o defunto discurso da Estratégia de Lisboa e
colocando no plano retórico o novo jargão da Estratégia 2020.
Simultaneamente, foram também publicados os dados relativos à variação dos custos nominais por hora de trabalho. Portugal
apresenta no 4º trimestre de 2011 variação homóloga negativa do salário nominal
horário em cerca de 1.7% (dado estimado). Mas essa variação negativa regista-se
nas atividades de construção e de serviços, ou seja, as que são predominantemente
não transacionáveis. As atividades industriais não registam descida da taxa
salarial horária, estimando-se uma muito ligeira subida, inferior a 0,5%, o que
parece não seguir o comportamento observado nos segundo e terceiro trimestres. Ou
seja, a pretendida desvalorização interna está a operar-se nos dois setores
mais diretamente atingidos pela redução forçada procura interna. Portugal
contrasta aqui com as situações observadas na Grécia e Irlanda, nas quais a
descida do salário nominal horário atinge também as atividades industriais.
A evolução destes números nos próximos trimestres marcará
a questão de saber se a desvalorização interna prossegue ou se interrompe. Mas
o que mostra a apatia europeia sobre a realidade destas economias é a evidência
de que a referida desvalorização interna não se repercute, globalmente, em
impulso de recuperação sustentada dos níveis de emprego. Evidência de apatia,
mas também de falência de uma narrativa.
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