A análise do movimento das ideias e da
política económica no período chave de 2008-2009 começa a proporcionar dados e
evidências que vale a pena integrar num todo coerente que explique por que razão
num curto espaço de tempo se observou uma oscilação tão súbita, que pode
caracterizar-se na expressão: do estímulo à mais que rigorosa disciplina
fiscal.
Talvez estivéssemos distraídos, mas
coisas importantes foram-se observando, sinais foram dados, que agora adquirem
outro significado, embora a curta distância temporal.
No meio de um artigo de Farrel e Quiggin (“Consensus, Dissensus and Economic Ideas: The Rise and Fall of Keynesianism During the Economic Crisis”, Março de 2012), que neste espaço
merecerá alguma atenção futura, encontrei um excerto revelador do discurso
inaugural que Angela Merkel proferiu em 2008 na Convenção da CDU:
“As raízes da crise são bastante
simples. Deveríamos ter perguntado a uma dona de casa da região de Swabia, aqui
em Stuttgart, em Baden-Württemberg.
Ter-nos-ia dado uma resposta curta, simples e uma peça carregada de sabedoria:
que não podemos viver acima dos nossos meios. Este é o coração da crise … Porquê
então o mundo está numa situação difícil? Bem, porque confiamos demasiado em ‘experts’
que o não eram realmente. Talvez não soubéssemos que não eram ‘experts’, mas
sabemo-lo hoje. Quando hoje pensamos como devemos responder a essas questões
globais, devemos dar menos atenção aos que se autoproclamam ‘experts’ e em vez
disso devemos seguir um princípio: o princípio do senso comum”.
Não, de facto, a economia global não é
equivalente a uma economia doméstica. E aqui não há consenso possível, mas sim
uma fratura irreversível. Hoje sabemos também ao que o princípio do senso comum
tem conduzido a economia europeia. E até sabemos contextualizar o senso comum
de Merkel. Na altura ela reagia violentamente à mudança de posição do Conselho
dos Experts Económicos do Governo alemão, que defendia na altura um estímulo
fiscal mais poderoso para a economia europeia em comunhão com o pensamento americano.
Sabemos também que na altura Merkel teve, pasme-se, o amplo apoio do
Social-Democrata SPD, o qual considerou aquele Conselho um conjunto de
incompetentes.
Se estivermos atentos este excerto do
discurso de Merkel tem sido glosado até à exaustão, como se de uma evidência se
tratasse. Não o é. Trata-se de uma representação viciada da macroeconomia.
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