segunda-feira, 19 de março de 2012

ESPERANÇA?

O francês Edgar Morin, 90 anos, é um intelectual da “velha guarda”, um dos poucos sobreviventes de uma época que fez história e deixou marcas. Li há dias uma entrevista que concedeu ao “El País” numa sua muito recente passagem por Madrid. Retive e partilho cinco breves ideias fortes.

Sobre o movimento dos indignados: “deve considerar-se como um sintoma”, um “despertar” face a um “clima geral de resignação e impotência”. Acrescentando que “não são revolucionários, são rebeldes que representam uma contestação”. E ainda que “fazem críticas justas, denunciam mas não podem enunciar”.

Sobre a crise: “É uma crise geral da humanidade”. Devida à globalização e à ocidentalização, contexto em que se desencadeou adicionalmente uma crise económica. Mas “a gravidade desta última não deveria mascarar a profundidade da outra”.

Sobre o capitalismo: “não é eterno mas tampouco está morto”. E explicita que “se trata de pôr fim a essa hegemonia [do capitalismo financeiro], que é a do dinheiro, a do lucro, a do quantitativo. Sublinhando também ser “verdade que a política não pode produzir a felicidade nem o amor, mas pode estabelecer que vale a pena perseguir esses objetivos”.

Sobre a democracia: a palavra é “revitalizar”, “recuperar a confiança dos cidadãos no sistema e nos cargos eletivos”. Contando com um papel que o Estado ainda deve ser chamado a desempenhar – “poderia apoiar as empresas que persigam um interesse público, um interesse socializado, cultural…” e contribuir para identificar os sectores “que podem ser produtores de futuro”.

Sobre o futuro: “se continuamos assim [degradação da atmosfera, proliferação de armas nucleares, fanatismo] vamos em direção à catástrofe”. Sendo que “se um sistema não é capaz de resolver os seus problemas fundamentais ou bem que se precipita na barbárie ou bem que se transforma para encontrar respostas novas”. E assim, num assomo de “esperança”, relembra que a vitória alemã parecia improvável em 1941 e enfatiza haver ocasiões em que “o improvável é possível”.

Esperança, pois. Ainda que “uma esperança que está ligada à desesperança”…

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