domingo, 4 de março de 2012

BCE VERSUS MERCADOS: 2º ROUND



Com mais uma intervenção do BCE na passada semana em matéria de Operações de Refinanciamento a Longo Prazo da banca europeia (conhecidos na terminologia financeira anglo-saxónica por LTRO – Longer Term Refinancing Operations), assiste-se a uma espécie de segundo round do combate entre o BCE e os mercados. Mas trata-se de um combate atípico, pois não é seguro que aconteçam rounds adicionais, mas também não é líquido que haja um vencedor. Mas a atipicidade do combate resulta também do tempo em que se analisam os resultados da operação: a curto prazo ou do ponto de vista das suas consequências sobre a estabilidade a prazo do sistema financeiro.
A operação de Dezembro de 2011 (a primeira) é vista generalizadamente como uma intervenção com o mérito de superar o eminente colapso do sistema bancário europeu. O comportamento dos mercados financeiros nos dois meses seguintes à operação de Dezembro traduziu-se por um aumento relativamente sustentado de todos os índices quase tocando os valores mais elevados do ano de 2011, nomeadamente os dos meses de Junho e Julho.
A operação concretizada na passada semana não envolveu um montante significativamente mais elevado do que o de Dezembro (530 milhares de milhões de euros contra 490), embora abrangesse agora um número muito mais elevado de bancos (800 contra 520), com forte participação de bancos espanhóis e italianos. Este facto foi interpretado como resultado da participação na operação de bancos de menor dimensão e eventualmente em maiores dificuldades.
A interpretação dos resultados da operação é, porém, menos pacífica e tem gerado alguma heterogeneidade entre os analistas.
Em primeiro lugar, o montante de liquidez efetiva que foi injetada na banca não é totalmente claro. Devido aos contornos complexos da operação, a operação de Dezembro terá permitido uma nova liquidez de apenas cerca de um terço do montante total oferecido (o cálculo do blog FT Alphavilleaponta para 193 mil milhões de euros). Segundo a mesma fonte, a injeção de agora terá sido muto mais substancial (cerca de 335 a 375 mil milhões de euros).
Continua controversa a discussão sobre o que é que a banca envolvida vai efetivamente fazer dos recursos a que teve acesso. Em inquérito anterior promovido antes da operação da semana passada, os dois únicos motivos assinalados para envolvimento na operação eram o pagamento de dívidas anteriores por parte da banca e a sua utilização para arbitragem entre taxas (aceder a recursos a taxas mais baixas e comprar títulos a taxas mais elevadas, o chamado “carry trade”).
Continua a ser por isso algo controverso o impacto da operação seja na aquisição de títulos da dívida soberana dos países mais atingidos, seja na dinamização da economia real, sobretudo este último.
Quer isto significar que o desenvolvimento do combate permanece interrogado quer do ponto de vista da estabilização do sistema bancário, quer do ponto de vista do verdadeiramente relevante que é o de contribuir decisivamente para a recuperação da economia real. Recorda-se que as operações do BCE constituem a via europeia para o chamado “quantitative easing”, a via possível para a monetarização da dívida. Com esta indefinição, o “policy-mix” que tem caracterizado a política europeia (disciplina fiscal e operações BCE) fica também largamente indefinida do ponto de vista dos seus resultados. Por isso, o combate talvez não tenha mais rounds, sem que a questão fique resolvida. Outros combates?
O ponto de situação das operações de empréstimo do BCE por países era o seguinte:

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