Com mais uma intervenção do BCE na passada
semana em matéria de Operações de Refinanciamento a Longo Prazo da banca
europeia (conhecidos na terminologia financeira anglo-saxónica por LTRO – Longer Term
Refinancing Operations), assiste-se a uma espécie de segundo round do combate entre o BCE e os
mercados. Mas trata-se de um combate atípico, pois não é seguro que aconteçam rounds adicionais, mas também não é líquido
que haja um vencedor. Mas a atipicidade do combate resulta também do tempo em
que se analisam os resultados da operação: a curto prazo ou do ponto de vista
das suas consequências sobre a estabilidade a prazo do sistema financeiro.
A operação de Dezembro de 2011 (a primeira) é
vista generalizadamente como uma intervenção com o mérito de superar o eminente
colapso do sistema bancário europeu. O comportamento dos mercados financeiros
nos dois meses seguintes à operação de Dezembro traduziu-se por um aumento
relativamente sustentado de todos os índices quase tocando os valores mais
elevados do ano de 2011, nomeadamente os dos meses de Junho e Julho.
A operação concretizada na passada semana não
envolveu um montante significativamente mais elevado do que o de Dezembro (530
milhares de milhões de euros contra 490), embora abrangesse agora um número
muito mais elevado de bancos (800 contra 520), com forte participação de bancos
espanhóis e italianos. Este facto foi interpretado como resultado da participação
na operação de bancos de menor dimensão e eventualmente em maiores
dificuldades.
A interpretação dos resultados da operação é,
porém, menos pacífica e tem gerado alguma heterogeneidade entre os analistas.
Em primeiro lugar, o montante de liquidez
efetiva que foi injetada na banca não é totalmente claro. Devido aos contornos complexos
da operação, a operação de Dezembro terá permitido uma nova liquidez de apenas
cerca de um terço do montante total oferecido (o cálculo do blog FT Alphavilleaponta para 193 mil milhões de euros). Segundo a mesma fonte, a injeção de
agora terá sido muto mais substancial (cerca de 335 a 375 mil milhões de
euros).
Continua controversa a discussão sobre o que é
que a banca envolvida vai efetivamente fazer dos recursos a que teve acesso. Em
inquérito anterior promovido antes da operação da semana passada, os dois únicos
motivos assinalados para envolvimento na operação eram o pagamento de dívidas
anteriores por parte da banca e a sua utilização para arbitragem entre taxas
(aceder a recursos a taxas mais baixas e comprar títulos a taxas mais elevadas,
o chamado “carry trade”).
Continua a ser por isso algo controverso o
impacto da operação seja na aquisição de títulos da dívida soberana dos países
mais atingidos, seja na dinamização da economia real, sobretudo este último.
Quer isto significar que o desenvolvimento do
combate permanece interrogado quer do ponto de vista da estabilização do
sistema bancário, quer do ponto de vista do verdadeiramente relevante que é o
de contribuir decisivamente para a recuperação da economia real. Recorda-se que
as operações do BCE constituem a via europeia para o chamado “quantitative easing”, a via possível
para a monetarização da dívida. Com esta indefinição, o “policy-mix” que tem
caracterizado a política europeia (disciplina fiscal e operações BCE) fica também
largamente indefinida do ponto de vista dos seus resultados. Por isso, o
combate talvez não tenha mais rounds, sem que a questão fique resolvida. Outros
combates?
O ponto de situação das operações de empréstimo
do BCE por países era o seguinte:
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