sábado, 31 de março de 2012

USUFRUIR O TEMPO



Com uma chuva providencial (não sei se em resposta às preces insistentes da Ministra Cristas) a vivificar os arrozais bordejantes do Sado, a rede de aglomerados urbanos do Alentejo Litoral (Alcácer, Santiago do Cacém, Santo André, Grândola, Sines e Odemira) debateu ontem na Pousada D. Afonso II o lema “Regenerar para atrair”, com o meu contributo (esquematizado no último post), Professora Ana Maria Freitas (Universidade de Évora) com o tema do turismo cultural e criativo e Dra. Maria João Vasconcelos com o tema da comunicação. A moderação coube ao jornalista Pedro Brinca, docente na ESSE do IP de Setúbal e diretor do “Setúbal na Rede”.
O meu conceito de competitividade baseado no tema inimitabilidade e das combinatórias de recursos que a podem assegurar vai fazendo a sua progressão, carecendo agora de uma métrica para o tornar operativo do ponto de vista da progressão.
A outra mensagem da focagem nos recursos inimitáveis que podem alterar significativamente a perceção global sobre o território convergiu bastante com as mensagens dos restantes intervenientes e, para meu espanto, observou-se alguma unanimidade entre as várias presenças institucionais no debate. O projeto da Herdade da Comporta esteve representado, bem como o grupo Pestana anfitrião da Pousada D. Afonso II. CCDR Alentejo, Entidade Regional de Turismo e pólo de desenvolvimento turístico do Alentejo Litoral também animaram a discussão e em todas estas entidades o tema do combate à atomização das mensagens de comunicação e a focagem num posicionamento que transmita a diferenciação (inimitável) e por isso competitiva do Alentejo esteve alinhado em posições muito convergentes.
E no seio desta convergência registei com agrado que a entidade regional do turismo não abandonou a ideia do tempo alentejano como grande mensagem comunicacional capaz de fazer a diferença e de consolidar o perfil de visitante que tem demandado com insistência este território. É também em torno desta ideia de tempo que temos concebido a estratégia de atração de residentes para este território – a ideia do SLOW LIFE INTELIGENTE.
Não me recordo da expressão portuguesa que marca a referida mensagem comunicacional em torno do tempo alentejano, mas as expressões em língua inglesa e francesa são de uma grande profundidade e penso que marcam bem a força diferenciadora do território:
TIME IS EVERYTHING
LE TEMPS EST TROUVÉ
A expressão francesa é particularmente tocante. Outra coisa bem diferente será encontrar financiamento nacional para construir um plano comunicacional que dê corpo e expressão à valia destes dois temas. E aqui continuamos a brincar aos esforços de comunicação a uma escala tão pequena que dificilmente os impactos estarão garantidos.
Outra ideia que despertou amplo interesse entre os autarcas presentes foi a minha pequena provocação aos grupos empresariais representados no debate. A base patrimonial e vivencial urbana do Alentejo, a ruralidade de excelência e próxima dessa convivialidade urbana e a paisagem que corporiza o lema do LE TEMPS EST TROUVÉ são indiscutivelmente bens públicos sobre os quais a combinatória para a inimitabilidade deve ser construída. Mas neste caso, dada a relevância desses bens públicos para os produtos e públicos focados por projetos como o da Herdade da Comporta ou os Alqueva Resortes de Roquette e companhia (mais Roquette do que companhia nas condições atuais de mercado), seria importante que o financiamento privado internalizasse no seu cálculo económico algum contributo possível para a sua preservação. Os representantes privados presentes não tugiram nem mugiram. Mas principalmente o autarca de Alcácer registou e apreciou bastante a ideia.
Uma última nota para louvar o trabalho de recuperação da memória da presença muçulmana em Alcácer através do seu projeto da Cripta Arqueológica que honra a arqueologia portuguesa. A multiculturalidade dos nossos assentamentos antecipou no tempo uma capacidade única de interlocução com diferentes civilizações e será em torno desta capacidade que poderemos conquistar um lugar no mundo à nossa escala e dimensão.

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