O gráfico de Krugman (acima representado) pretendeu na
semana passada assinalar a situação crucial que a Espanha apresenta do ponto de
vista de saber qual vai ser o rumo da abordagem à crise das dívidas soberanas,
sobretudo depois do compasso de espera que a intervenção do BCE e a
reestruturação da dívida grega vão assegurar nos próximos tempos.
A ideia implícita no gráfico é que de 2000 até ao
acontecimento Lehman Brothers o peso da dívida espanhola relativamente ao PIB
desceu em oposição ao observado na Alemanha. E foi no pós-Grande Recessão de
2008 que a situação se inverteu. Por conseguinte, a Espanha não pode ser
apontada como um caso de indisciplina de dívida pelo menos no período antes da
crise. O que desmonta em parte o discurso habitual construído sobre esta matéria,
fortemente centrado na ideia da indisciplina fiscal que não é mais do que o
caldo preparado para justificar a imposição do chamado pacto fiscal.
Ora, a Espanha foi uma das economias europeias (juntamente
com a Irlanda) que apresenta uma situação de desequilíbrio macroeconómico mais
próximo de uma “bolha imobiliária” e suas ramificações na sofisticação e
imparidades do sistema financeiro. É que a dimensão demográfica, de rendimento
e de mercado interno da economia espanhola, ao contrário de Portugal, coloca-a,
para o bem e para o mal, muito mais sensível aos enviesamentos provocados por
uma excessiva afetação de recursos ao setor imobiliário. A economia espanhola
entra, assim, numa fase em que famílias, banca e empresas estão submetidas a um
processo de desalavancagem para corrigir as suas próprias imparidades geradas
pela já referida crise imobiliária. E tal como Richard Koo sublinhou em artigoque varreu a internet e que já foi aqui objeto de devida ponderação, numa situação
em que famílias, empresas e banca estão a “aforrar” para corrigir essas
imparidades, submeter a economia a uma vasta e pesada disciplina fiscal só
poderá prolongar o quadro recessivo.
Por isso, a Espanha é o foco futuro desta contradição.
Claro está, que a “bolha imobiliária” à espanhola
evoluindo num contexto de mercado interno tão favorável tendeu a ocultar, esse
sim, o problema real desta economia. O quadro do euro também gerou à economia
espanhola um problema de competitividade. E pese embora o maior peso da
organização empresarial que a Espanha apresenta quando comparada com a de
Portugal, a economia espanhola continua a apresentar um problema de
competitividade.
Para um indicador de competitividade que a Comissão
Europeia está presentemente a utilizar para comparação de países nesta matéria,
a Espanha apresenta numa escala de o a 100 um valor de 42,2 para um valor médio
na UE de 54,7. E embora na agricultura, indústria e serviços, a economia
espanhola tenha valores de produtividade média sempre superiores aos da média
da UE, o crescimento da produtividade por hora trabalhada é inferior ao da média
europeia. Os 21,3% da taxa de desemprego e os 7,3% da população ativa que se
encontram em desemprego de longa duração hoje observados evidenciam não apenas
os efeitos da crise mas também o seu problema de competitividade.
O comportamento da balança de transações correntes em
percentagem do PIB ao longo da década 2000-2010, sempre com défice (médias
anuais de 3 anos), claramente agravado depois de 2005 (ver gráfico abaixo),
mostra que não há apenas um problema de competitividade em Portugal. Esse problema
é ibérico, ou seja, atuamos, nós portugueses, num mercado interno alargado (o ibérico)
cujas economias que o constituem enfrentam um problema estrutural de
competitividade.
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