Posso estar enganado mas através do que
li e ouvi até ao momento, parece-me ter sido Rui Rio o primeiro, ou pelo menos
o que o fez com maior solenidade, a reagir à notícia de que seria a Caixa Geral
de Depósitos a financiar, em cerca de 2/3, a operação de aquisição de ações da
Brisa de modo a controlar integralmente o capital da BRISA.
E fê-lo com algum aparato na Conferência
de encerramento dos "Grandes Debates do Regime" promovidos pela Câmara Municipal
do Porto que acolhia a intervenção de Jorge Sampaio. E não tenho qualquer relutância
em o afirmar que o fez com toda a razão e pertinência.
Numa situação em que o crédito à
economia real e sobretudo ao setor dos transacionáveis (exportação) está longe
de estar fluido, mas bloqueado, e que a mudança na afetação de recursos deve
penalizar claramente os não transacionáveis, interrompendo o ciclo da penalização
do Estado abundantemente recriado com a parcerias público-privadas, a estratégia
de atribuição de crédito da Caixa Geral de Depósitos é incompreensível. Sabendo
que a estratégia de controlo da empresa é estritamente um problema do Grupo
Melo não será seguramente uma vaga ideia de manter a Brisa sob controlo
nacional que pode justificar a operação, acaso ela venha a verificar-se. Caso
se verifique, isso demonstrará que o “El Dorado” dos não transacionáveis
infraestruturais, de que as autoestradas são o representante mais inequívoco,
mantém a sua força apesar de todo o discurso retórico das reformas estruturais.
Se é para isto que existe um banco público vou ali e venho. É talvez um
pormenor mas se a informação for informada a indignação vai muito para além da
pose de Estado que Rui Rio quis transmitir. É mesmo um sinal de que, para além
da utilização consciente do memorando da Troika para fazer passar um modelo não
politicamente escrutinado de Estado mínimo, não há uma ideia estratégica de
futuro para a economia portuguesa. Para além da captura do Estado temos a
captura do crédito e escasso como ele está trata-se de facto de uma excelente
caçada.
Sem comentários:
Enviar um comentário