domingo, 4 de março de 2012

FARMÁCIA ERA COM PH, E HOJE?

Declaração pessoal de “interesses” sobre a questão do acordo ortográfico: não simpatizo especialmente com o acordo ortográfico, ponto; vivia muito confortavelmente com o português que aprendera a escrever, ponto parágrafo. Mas, como tenho consciência de que quase tudo é suscetível de discussão, rendo-me aos factos e aceito as consequências. Tenho dificuldade, sobretudo, em compreender que assim não seja ou, dito de outro modo, não entendo Vasco Graça Moura (acima caricaturado por Fernão Campos em http://ositiodosdesenhos.blogspot.com), Miguel Sousa Tavares e egos exaltados do tipo!

Há coisas incongruentes ou inexplicáveis no acordo? Certamente que sim, provavelmente até no plano científico. Só que, embora não conhecendo as vicissitudes e os detalhes negociais, tendo a acreditar que a redação alcançada ao final de tantos anos terá sido o compromisso possível entre os luso-falantes envolvidos. Como também tendo a aceitar que haja ganhos avaliados em relação às vantagens da relativa uniformização adicional que o acordo concretiza, designadamente no tocante ao seu potencial em termos de abertura do enorme mercado brasileiro e/ou do inquestionável peso do Brasil na projeção internacional da língua portuguesa.

Assim sendo, e mesmo não enjeitando o devido respeito a proclamadas questões de princípio, adoto uma posição pragmática de não rejeição; leia-se, portanto, de ajustamento e habituação às novas normas. Tal como no espírito (que não na letra…) do líder parlamentar do CDS quando exclamava: “Já tenho o corretor no meu computador. Mas continuo a escrever ‘espectador’ e não ‘espetador’.” Sendo ainda que, note-se, as alterações introduzidas são muito menos substanciais do que as da reforma de há um século, abrangendo (a fazer fé numa afirmação de Marcelo Rebelo de Sousa) apenas 4% das 110 mil palavras que há em Portugal.

Esta atitude tem aliás total paralelismo na condescendência/simpatia com que encaramos as mensagens escritas registadas nos telemóveis dos nossos filhos ou os “erros” pressentidos no português pronunciado ou escrito à moda do Brasil ou de África – ver, numa linha convergente, o modo como Luís Afonso se exprimiu sobre o acordo no seu excelente “Bartoon” do jornal “Público” de 15/9/2011 (
http://www.publico.clix.pt).

Para não falar do espanto com que necessariamente nos deparamos perante escritos tão recentes quanto de um século. Ilustrando com o Fernando Pessoa de 1911: “Não tenho sentimento nenhum politico ou social. Tenho, porém, num sentido, um alto sentimento patriotico. Minha patria é a lingua portugueza. Nada me pesaria que invadissem ou tomassem Portugal, desde que não me incommodassem pessoalmente, Mas odeio, com odio verdadeiro, com o unico odio que sinto, não quem escreve mal portuguez, não quem não sabe syntaxe, não quem escreve em orthographia simplificada, mas a pagina mal escripta, como pessoa propria, a syntaxe errada, como gente em que se bata, a orthographia sem ipsilon, como escarro directo que me enoja independentemente de quem o cuspisse.”

Tudo visto e ponderado, talvez optar pela língua como ferramenta, pela língua como essência do contacto entre pessoas, pela língua como expressão de vida…

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