terça-feira, 13 de março de 2012

ESCLARECIMENTO E MEMÓRIA

1. Para o António Figueiredo (“Aplauso ou reticências?”): claro que sim! Só pode ter sido por equívoco, de que aqui me penitencio, que posso ter deixado subentender que o “aplauso” podia ser sinónimo de qualquer resposta eficaz finalmente encontrada. Situação talvez explicável por um excesso de entusiasmo perante a forma brilhante como Draghi enfrentou os seus insaciáveis detratores. Mas decerto que a solução da coisa não passará por “reformas” tipo “ganhar tempo”, antes que a coisa exigiria caminhos de “revolução”. Embora, no final das contas, através de opções que homólogos estrangeiros não muito dados a grandes ruturas (FED ou BoE, p.e.) já consagraram. Em tese, defendo portanto o comando da dimensão política sobre a "verdade" tecnocrática, logo um banco central a desempenhar um papel de “lender of last resort” versus a deixar-se aprisionar pelo dogma da independência, e prefiro a busca de um “mix” equilibrado entre as variáveis macroeconómicas a políticas monetárias fobicamente dirigidas ao controlo da inflação. Tal como muito simpatizaria – “ça va de soi”! – com uma Europa mais cooperante e dotada de maior “accountability” democrática...

2. Helena Garrido, “Jornal de Negócios”: “Ontem dia 11 de Março, há um ano, o BCE e a União Europeia aliaram-se para apoiar Portugal e evitar o pedido de ajuda. A Zona Euro estava a testar uma nova abordagem à crise do euro, funcionando Portugal como proteção da Espanha e da Itália. Foi a falta de consenso e entendimento entre os protagonistas políticos nacionais que acabou por lançar o país nos braços da troika.” Aqui deixo para arquivo mais esta versão convergente com a que tenho vindo a sustentar. E que entretanto nos interroguemos sobre se este “foi o melhor caminho” e que até possamos admitir existirem argumentos nesse sentido (do consenso alargado e da energia nova em torno do programa de ajustamento à hipótese de a troika precisar de um caso de sucesso) é toda uma outra questão, quiçá igualmente legítima e meritória. Porque a história se faz de factos e não de cenários…

3. Não sei explicar muito bem porquê mas sempre torci o nariz ao processo de compra da Compal à Nutrinveste (Grupo Mello) por sociedade do Grupo Caixa Geral de Depósitos e sua posterior fusão com a Sumolis (entre 2005 e 2008). Cheguei mesmo, num curso com Paulo Ferreira dirigido a jornalistas, a referir-me à operação como um possível exemplo de “socialização de perdas”. Vem agora o Ministério Público acusar aquelas entidades (nomeadamente Caixa BI, Caixa Desenvolvimento e Caixa Capital), a sociedade de advogados PLMJ e gestores (nomeadamente Jorge Tomé, José Manuel Carrilho, Alcides de Aguiar e Vasco d’Orey) de burla fiscal (ver capa do JN de hoje – “4 acusados de burla fiscal na CGD”, “Arriscam pena de prisão até oito anos” e “Gestores do banco do Estado suspeitos de enganar o Fisco em 1,5 milhões de euros em imposto de selo e sisa”). Sobre este assunto nada conheço e não me posso nem devo obviamente pronunciar, mas tenho de reconhecer que a configuração daquela operação me voltou a fazer agitar a cabeça…

Sem comentários:

Enviar um comentário