sexta-feira, 23 de março de 2012

PENSAR A CIDADE EM VIANA


Com a presença tutelar da Torre da Roqueta e do Forte de Santiago da Barra, em Viana do Castelo, concretizou-se hoje a 1ª edição, espera-se, de uma prática regular de debate em torno dos desafios da governação das cidades neste século, numa lógica de Fórum de debate, que penso poder ficar conhecido por Fórum Viana.
Com a Presidência da Câmara Municipal de Viana do Castelo, enquanto atual Presidente do Eixo Atlântico, a pautar o interesse de um debate continuado sobre esta matéria, o Eixo prossegue a sua ação meritória de já há muitos anos de manter com os municípios seus associados uma prática regular de animação de ideias para a governação local, fazendo-o numa lógica pouco comum – a do relacionamento transfronteiriço, transnacional, inter-regional, acolhido pela ideia de Euro-região.
Num programa que talvez seja excessivo face ao padrão corrente de encontros desta natureza, determinando por isso alguma adaptação futura, destacaria dos contributos de hoje os seguintes traços fundamentais:
  • Primeira aparição pública do novo Presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional Norte e o enunciado público da sua preocupação com a preparação do próximo período de programação;
  • Uma excelente conferência inaugural e introdutória ao tema de Willem van Winden que teve o condão de nos trazer um conjunto de referências de movimentação de cidades para o novo paradigma urbano, opondo a dinâmica das megacidades à criatividade de cidades de pequena e média dimensão em diferentes modelos de incorporação de conhecimento e de muita aprendizagem na conquista de espaços de diferenciação e captação de talentos;
  • Uma sessão de grande nível sobre o tema das cidades inteligentes: (i) Pedro Costa (ISCTE-IUL – Dinâmia) com uma comunicação bem estruturada sobre diferentes tipologias de facilitação da criatividade (indústrias culturais e criativas) e com duas mensagens muito fortes – esta facilitação não dispensa nem substitui a intervenção pública em matéria de políticas culturais; a facilitação da criatividade não pode ser excessivamente enquadrada e institucionalizada sob pena de matar o seu objeto; (ii) José Mendes (Universidade do Minho) com uma intervenção pujante e arrebatada em torno do seu livro O Futuro das Cidades (Minerva, 2012), mas sobretudo propondo um modo de abordagem muito consistente à procura de diferenciação e competitividade para as cidades: Inovadoras, Intelectuais, Conectadas, Sustentáveis, Autênticas e onde até Brian Eno (Scene + Genious) foi citado; (iii) a apresentação muito profissional do projeto INOV CITY da EDP Distribuição, com experiência pioneira em Évora e abrangendo o tema de ponta das Smart Grids para Smart Cities.
  • Uma abordagem multifacetada ao tema da sustentabilidade: a competência de Borges Gouveia (Universidade de Aveiro) nos temas da utilização racional de energia e da eficiência energética; a promissora incursão da arquitetura nos domínios da sustentabilidade (Bruno Marques, Ordem dos Arquitetos); o caso de estudo de Almere nos Países Baixos (Edna Cabecinha, UTAD) e a boa prática ( a seguir com atenção dada a sua abrangência e inovação) do Plano de Ordenación do Litoral Galego (Manuel Borobio, Direção Xeral de Sostinibilidade y Ambiente da Xunta de Galicia);
  • A combinação de uma abordagem mais conceptual do crescimento/desenvolvimento inclusivo (fruto de uma experiência ampla e diversificada de investigação-ação-militância social e comunitária) de Rogério Roque Amaro (ISCTE – IUL) e de uma experiência pioneira e exemplar de rede social da Câmara Municipal de Famalicão (uma Câmara social-democrata) apresentada por Francisco Jorge; destaco sobretudo a proposta de abordagem de Roque Amaro, distinguindo entre inserção (a perspetiva da capacitação dos marginalizados potenciais ou efetivos) e inclusão (a perspetiva da mudança social e organizacional para o acolhimento dos que são capacitados, convergente com a defesa de um conceito de desenvolvimento integrado para este tipo de projetos e políticas públicas.
Como se vê, para arranque de uma prática futura o debate não foi peco. Precisaremos agora de o focar melhor e de encontrar um modelo de funcionamento capaz de mobilizar mais gente e definir as ideias-resultado mais pertinentes para animar o debate político no interior do próprio Eixo Atlântico, cada vez mais um “think tank” a partir da periferia.
E para não perder a energia, o Eixo tem já em preparação a apresentação da obra digital Pensar a Cidade do século XXI, complementar e alimentador do próprio Fórum, provavelmente na Corunha e no Porto, agora que a primeira parece recuperada para a própria dinâmica do Eixo. É obra. Na periferia, pensa-se, o que é antes de mais higiénico e saudável ao jeito de contra-cultura contra o espírito dos calimeros, da vitimização, do regionalismo e localismo bacocos e a favor dos que ousam pensar os respetivos Países não necessariamente a partir da corte ou dela dependendo.

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