As eleições regionais do passado fim de
semana nas regiões espanholas da Andaluzia e das Astúrias passaram
relativamente despercebidas no comentário político em Portugal. Não há de facto
tradição de acompanhamento da problemática regional em Espanha, erradamente
entendida como coisa menor, com sérios riscos de incompreensão da dialética política
em Espanha regiões versus Madrid.
Mas o que é que os resultados do último
fim de semana trouxeram de novo ao debate político espanhol? Praticamente todas
as sondagens anunciavam uma vitória em toda a linha do Partido Popular, a qual
a acontecer implicaria uma homogeneidade quase total do PP de Rajoy pelos
territórios de Espanha, embora com o País Basco e a Catalunha a representarem
sempre uma singularidade face ao debate PP-PSOE, ou se preferirem direita
versus esquerda.
Depois, um pouco em termos similares ao
observado em Portugal, a generalidade dos comentadores associava a esse
resultado o descalabro socialista na sequência das últimas legislativas. Em cavaqueira
com alguns dos meus amigos galegos, tenho corroborado essa sensação de desnorte
nas hostes do PSOE, mesmo depois da confirmação da vitória interna de
Rubalcalba. O deserto de ideias deixado por Zapatero tem algo de parecido com o
legado pós Sócrates em Portugal, mesmo reconhecendo as diferenças de
personalidade e de método entre as duas personalidades e os respetivos círculos
mais próximos. Por isso, seria de esperar a confirmação das sondagens.
Mas a sociedade espanhola diverge
bastante da portuguesa. As duas regiões em causa têm uma tradição operária e não
identificação com as mensagens veiculadas pelo PP. Resultados
- Nas Astúrias, o PSOE foi o partido mais votado, afastando literalmente o PP da governação regional;
- Na Andaluzia, embora sendo o partido mais votado, o que configura uma profunda rutura histórica, o PP ficou aquém de uma votação de maioria absoluta; nesse contexto, com o reforço da Isquierda Unida, estão criadas as condições para que o PSOE mantenha a governação em coligação ou acordo parlamentar;
- A concretização destas realidades pode ter efeitos de contágio e nos últimos dias falava-se que na Extremadura poderia ser explorada uma coligação similar à da Andaluzia, alterando o cenário de governação com perda do lugar do PP.
A relevância destes acontecimentos, aliás
profusamente comentados na imprensa económica especializada, prende-se com a
necessidade de respaldo político generalizado que Rajoy necessita para ir
aplicando o pacto de disciplina fiscal a que está obrigado (provavelmente não
totalmente convencido) pela pressão europeia/alemã. Ao PP dará sempre jeito tal
pressão para ir impondo sobretudo algumas alterações da legislação laboral,
essas já claramente alinhadas com as mais profundas orientações da direita
espanhola, não tão segmentada como a direita portuguesa.
Nas condições de desorientação de
ideias e de projeto que o PSOE apresenta, vai ser essencialmente a realidade
social espanhola que vai controlar a trajetória de implantação do PP. E aqui as
singularidades dos territórios e “nações”, ou as várias Espanhas, marcarão o
debate. Não creio que em tão curto espaço de tempo o revigoramento das ideias
socialistas tenha lugar e produza uma alternativa credível. Mas, de qualquer modo
os resultados andaluzes e asturianos deram alguma capacidade de respiração a
Rubalcalba. Bem precisa: o homem era um sprinter de grande qualidade na sua
juventude, mas o que viria a calhar era um corredor de meio fundo ou, pelo
menos, um transmissor de testemunho que não comprometa o resultado global da
equipa estafeta.
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