quarta-feira, 21 de março de 2012

CAPICUA

Foram divulgados os números da execução orçamental relativos aos dois primeiros meses de 2012. A comparação com os meses homólogos de 2011 resulta numa infeliz capicua de sinais contrários: quebra de 5,3% quanto às receitas e aumento de 3,5% em relação às despesas.

Entretanto, virá aí um orçamento retificativo – entrega na AR anunciada pelo Governo para até ao final do mês – que servirá também para baralhar e dar de novo, designadamente porque necessariamente irá inviabilizar comparações tão objetivas quanto as que aquela capicua permite.

Enquanto isso, os “mercados” parecem começar a reaquecer os motores: Portugal irá pedir um segundo pacote de ajuda até ao final do ano e corre o risco de seguir o destino da Grécia, disse ao “Der Spiegel” Mohamed El-Erian – o CEO do maior fundo privado de obrigações mundial, a divisão do grupo segurador alemão Allianz designada por Pimco que é detentora de 1,36 biliões de dólares de ativos sob gestão –, acrescentando que “there is a lot of money waiting on the sidelines to see what happens”.

Enquanto isso, ainda, a dupla Gaspar/Moedas, garbosa executora da estratégia em curso sob a batuta de Passos, regressa dos Estados Unidos, onde foi explicar o programa português de ajustamento (“Portugal: gaining credibility and competitiveness”) e reiterar que uma economia portuguesa em acelerado afundamento (as previsões mais recentes apontam para uma queda do PIB superior a 3%) vai voltar ao crescimento positivo no próximo ano para depois entrar numa senda imparável (palavras minhas) pela mão de mágicos “efeitos substanciais das reformas estruturais no crescimento económico” (cerca de 5% no nível do PIB “pode materializar-se em 3 a 5 anos” – e daí, mesmo que assim fosse?).

Como nada me indica que deva duvidar da boa-fé destes homens, fico-me pelo registo da persistente ingenuidade das convicções ideológicas e tecnocráticas que os levou e vai levando a “dar passos maior que as pernas”…

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